sexta-feira, 27 de maio de 2022

A Morte de Madeleine e as mudanças psicológicas dos personagens no remake de Pantanal

É até estranho abrir um tópico apenas para falar disso, mas é algo de imensa importância na novela, e eu nem sei se é algo consciente, de roteiro, ou algo imaginário da minha parte, mas a morte da personagem Madeleine na trama de Pantanal tornou-se fundamental para o bom andamento da novela.

Desde o início eu tenho notado uma imensa diferença na parte psicológica dos personagens, como eu comentei aqui. Aparentemente o diretor quis dar uma ênfase na trama, modificando a estrutura de alguns perfis para os dias de hoje.

Nota-se isso logo de cara, na primeira fase da novela, no Zé Leôncio. 
Onde Paulo Gorgulho era bem humorado, calmo e, mesmo sofrendo pelo sumiço do pai, alegre e brincalhão, Renato Góes foi atormentado e desinteressado. 

Mesmo em momentos de descontração, O Zé de Renato conseguia ser melancólico e o de Paulo, de bom humor. 
A mudança foi tão radical que se estendeu à segunda fase e temos então um Zé Leôncio bem diferente do antigo. Onde Cláudio Marzo era ponderado e calmo, mesmo quando se irritava, Marcos Palmeira é abrutalhado, grosseiro e mal humorado, mesmo no dia a dia. 
Isso foi inclusive notado por fãs que repararam e comentaram essa diferença em foruns de discussão, e a geração Z que assiste a novela pegou "ranço" do personagem, tão querido na novela anterior; hoje ele é chamado de "bad vibes".

Filó antes era bem humorada, ácida, vivia com a "mão na massa", fosse descascando um alho, arrumando uma cama, escolhendo feijão, estendendo roupa e, durante suas reinações, via tudo que se passava. De vestido simples, sem ares de rainha ou dona, Filó tinha um sorriso meigo e jeito sincero.

A Filó atual é também melancólica, se veste como uma patroa e, embora apareça na cozinha, nem sempre é cozinhando. Sim, claro que ela aparece cozinhando, afinal ela é a "dona da cozinha", mas a Filó antiga jamais se queixava de uma tarefa, e a Filó atual parece se ressentir pelo papel ao qual ela é relegada. 
Não sei se quiseram dar um tom mais pitoresco, mas outro dia ela apareceu batendo grãos num pilão, e eu achei exagerado até mesmo se fosse em 1990.
Obviamente tem as vantagens de atualmente, as modificações: a roupa, as regalias, eu entendo tudo isso. mas a personagem perdeu suas características principais que eram a rusticidade e a sinceridade que nos fazia gostar tanto dela, quando falava sozinha com seus botões. 

Todos mudaram, obviamente, mas as mudanças mais radicais foi nos personagens principais. Mariana que de uma boa pessoa, prática, porém sincera, tornou-se uma manipuladora interesseira e megera; Tadeu, jovial e imaturo, transformou-se num rapaz sem sal, embora a performance do ator seja ótima; Joventino era um animado garoto que gostava de zombar de tudo, transformou-se num chato, chorão e depressivo "garoto"!

E o que tudo isso tem a ver com a morte da Madeleine?

Bem, o problema é que todos gravitavam em volta dela: mãe, irmã, filho, ex marido, peguete, suposta nora. 
Ela reclamava que a irmã vivia através da sua vida, mas quem ia buscar o Joventino na escola quando ela simplesmente não aparecia? Irma. 
Quem informava ao pai como o garoto estava vivendo?  Irma. 

Ela indiretamente impedia que Zé visitasse ou tivesse qualquer informação do garoto. Poderia ter tomado MIL providências para que eles não perdessem o contato, o garoto poderia ter passado as férias na fazenda a cada 6 meses, mas Madeleine, ferida por Zé não querer saber mais dela, inventou que ele era órfão e assim ficou. 

Ela odiava TANTO o pai do seu filho que indiretamente passou esse ódio ao filho. Jove não conseguia ver o pai que tinha e Zé, com tanta mágoa e expectativa represadas no peito, não conseguiu deixar de lado algumas crenças. 
Como eles mesmos disseram, eles não eram o pai e filho que ambos esperavam. 
Por outro lado, sendo Jove "tão mais evoluído" por ser da "cidade grande", poderia ter tentado entender que, no interiorzão, não adianta tentar se fazer entender à força. Entrou num embate ridículo com o pai pecuarista e não tendo carta nas mãos para um bom jogo, acabou tendo que se render ao óbvio: sem o sustento do pai, ele não é nada.

Outra coisa que foi insinuada na novela, é que Madeleine deveria se separar de Zé - finalmente - e "cobrar o que lhe era de direito": ou seja, arrastá-lo à uma briga judicial pela divisão das fazendas, afinal eles se casaram nos anos 80 e na época era muito comum a comunhão total de bens. 

Madeleine, ao embarcar naquele avião com destino ao Pantanal, foi disposta a recuperar tudo que havia perdido: marido, filho e direitos. Ia passar como um trator em cima da Filó, que, como também dito, era apenas uma empregada com quem ele passava as noites. 

Na cabeça dela, já que ele não havia pedido o divórcio, Zé ainda sentiria algo por ela. 

A trama original não tinha a intenção de matar Madeleine, e eu realmente não sei qual seria o destino dela na novela, mas Ítala Nandi quis sair e então essa foi a - melhor - solução na época. E hoje também, tendo em vista que Madeleine era uma pessoa muito pior do que antes. 

E ao morrer, todos os laços que ela indireta e inconscientemente criou se desfizeram: o filho não precisa mais ter medo de amar o pai e com isso desagradar a mãe; não precisa mais falar que "o pai cheira bosta de vaca como minha mãe sempre disse", mas como disse sabiamente Gustavo: ela NUNCA esqueceu esse cheiro. Jove agora pode tentar se entender com o pai sem a sombra de desaprovação de sua mãe. 

Irma não precisa mais cobrir os buracos da falta de atenção de Madeleine, pode fazer o que quiser, pode ser sincera em amar quem quiser sem o peso da culpa, por amar o cunhado. 

Gustavo pode viver uma vida plena, sem esperar um ataque ou um retorno de Madeleine em sua vida e mexer em sua cabeça e seus sentimentos, como ela fez tantas e tantas vezes.

Zé Leôncio está livre da onipresença dela; ela, a mãe de seu filho que destruiu sua vida, que fez com que ele nunca pudesse se casar com a Filó ou se lembrar do passado sem a mácula da decepção. 

Filó está livre para ser o que sempre foi: mulher de Zé; pois antes ela era "a outra". Sempre foi "a outra". 

E Mariana, afinal, está livre de uma filha que nunca soube o que quis da vida, obrigando a mulher a tomar atitudes extremas para proteger a eterna criança mimada. Por culpa dela? Sim, ok, mas ainda assim, mimada e com uma vida sem sentido. Uma filha que jamais conseguiria caminhar sozinha, sem a mãe para ajudar. Uma filha que demandava enorme esforço para sobreviver ao caos psicológico que ela mesma se enfiava. 

Isso não fica tão claro na primeira novela, e como eu disse, talvez seja uma análise doida minha, mas eu tive essa percepção nos capítulos subsequentes da novela. 


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