sábado, 3 de setembro de 2011

A correria é tanta e a adaptação é tão difícil que só hoje eu estou tendo tempo pra escrever.

O fato é que minha mãe teve alta e veio pra casa.

Como assim, alta? Mas ela não estava incapacitada? Deitada? Sem movimentos?
Sim, ela está tudo isso, e está também com um tubo de traqueostomia de metal e uma sonda naso enteral, mas teve alta assim mesmo.

Inicialmente eu assustei, quando o médico disse que depois da cirurgia ela ia ter alta. Pensei em entrar com um recurso pra conseguir que ela ficasse mais tempo no hospital. Mas aí eu conversei com o médico, e ele disse que tudo que ele podia fazer pela minha mãe, ele fez: cirurgia de válvula para o escoamento do líquido que deu a hidrocefalia. Clinicamente ela está bem, não tem infecção, está numa fase ótima pra ser mandada pra casa. Se ela ficasse mais tempo na Santa Casa, poderia ter mais infecções.

E então eu pensei, "eu pedi tanto, rezei tanto pra ela voltar pra casa comigo, meu pedido está sendo atendido, e eu vou negar a ela a chance de se recuperar em casa, a chance de eu fazer por ela tudo que eu puder?"

Então, dia 23 de agosto ela veio pra casa.
Arrumei uma cama de hospital, um colchão de ar (grande cagada a minha, ele deixa o corpo muito instável), lençóis grossos pra fazer de traçado... ganhei soro fisiológico, 1 litro de leite de soja pra alimentação enteral, uns drenos, frascos...
E ela veio de ambulância.

Contratei a Sônia, mãe da Maraysa, pra me ajudar a trocar e cuidar dela (esse "ajudar" é maneira de falar, ela faz quase tudo sozinha).

A primeira noite pareceu um pesadelo. Ela estava com dificuldade pra puxar o ar, tinha que ser "aspirada" e eu não sabia a quem recorrer. Passei a noite sentada, olhando pra ela, esperando a hora que ela ia sufocar e morrer na minha frente sem eu poder fazer nada...

No dia seguinte, arrumei uma fisioterapeuta pra fazer não só as aspirações, como também as sessões que ela precisa, respiratórias e motoras.
Depois de uma semana e pouco, achei que a Meyre está mexendo bem mais as pernas e respirando de forma mais leve.

Contratei também um enfermeiro pra dar banho, porque precisa ter prática e FORÇA FÍSICA pra lidar com ela.
A Ciça tem levado os lençóis pra lavar na casa dela (ela tem máquina de lavar).

O que eu faço então, já que deleguei todas as tarefas mais importantes aos outros?
Corro atrás dos remédios, exames, material... Não deixo faltar nada, desde os legumes pra sopa dela, até as fraldas, as sondas, soro, óleo de girassol pra escara...
Sexta passada fomos de ambulância fazer um eletrocardiograma, pra poder requisitar um cardiologista, porque a pressão dela tá super instável.
Consulta, agora, só dia 6/9. Enquanto isso, dou meu remédio de pressão pra Meyre, de 12 em 12 horas.

A primeira semana passei atrás de requisições, consultas com médicos, etc, porque eles terão de vir em casa fazer visitas. Não dá pra simplesmente colocar ela no porta malas do carro e levar pras consultas...

De noite eu acordo direto pra ver se o tubo de respiração tá entupido de secreção, geralmente tem que limpar.

Fora isso tudo, tem a Anna Carolina. Parece que ela adivinha os horários de colocar comida ou trocar a Meyre, porque ela sempre acorda nesses mesmos horários.
Aliás ela e a avó entaram numa troca de alimentos: Meyre bebe o leite de cabra da Anna, Anna toma a sopa de legumes da Meyre.

Enfim, entre idas, vindas e tudo mais, agora minha vida deu uma "aliviada" (entre aspas mesmo, afinal nunca se sabe o amanhã), mas a primeira semana foi FODA.

No primeiro dia, dia de adaptação total, nós conseguimos sujar 8 lençóis. Lavei tudo no tanquinho.
Meu tempo estava tão curto que eu e a Anna aprendemos a tomar banho juntas, de chuveiro. Tirando o bicão de choro do primeiro dia por ver aquela cascata caindo, ela tem adorado as chuveiradas.

A Sônia adora ela e ela adora a Sônia.

Quanto a mim, tenho tomado meu remédio da pressão, mas eu sinto que ela não baixa totalmente.
Meu cabelo anda caindo aos tufos, parece aquela época quando eu tinha acabado de operar...

Fabio viajando a semana toda pra ganhar a vida. Não posso nem reclamar, esse final de mês foi ele que conseguiu abastecer a despensa.
A Paola ajudou com um depósito no dia primeiro, época que eu ando mais dura possível, porque nossos salários caem no terceiro e quinto dias úteis.
Nem grana pros legumes eu tinha!

Tenho escutado punk rock, eu, que nunca gostei desse gênero musical. De acordo com o Ivo, eu "entrei em sintonia", porque minha vida "tá punk".

Senti uma saudade enorme do tempo que andávamos eu, ele, Toni, Robinson, Filé, MT, Ellen, Shirov, Fuba, Torres, Piru, Kenga, Renato...
Aliás, eu, Shadai, Northrop, J0ker, X-Files, MT (nunca teve nick, ou antes, ela teve tantos nicks e nunca se acertou com nenhum rss), Killer Girl, Shirov, pedepano, The Devil, piru, Kenga (qual era o nick do Kenga mesmo? Sniper?), Nimzovich, Saita...
A gente saindo pra pixar muro, indo na Lan House do Podre, organizando IRContro, jogando UO ou simplesmente ficando parado na avenida, olhando o movimento e enchendo a cara. Tudo era divertido. Tudo era engraçado.

Do pessoal que vinha em casa (Márcio e Marcela, Juliana e Robinson, Gustavo e Drica, Trini, Ronaldo, Fábio e Isa, etc) não sinto saudades não. Isoladamente, sim, como no caso do Gustavo e dos nossos intermináveis papos, mas como um todo, não, não sinto.

Parece que, na época, minha vida era mais simples - e era mesmo.

 Quanto tempo sem postar... Decepção atrás de decepção..  Com o governo, preciso falar? Lula voltou com sede de sangue, vingança...  Sul lit...