quinta-feira, 28 de junho de 2012


Eu sou fã incondicional do Romance O Tempo e o Vento, de Érico Veríssimo.

Gosto muito mesmo. Já li não sei quantas vezes, e minhas partes favoritas - como não poderia deixar de ser - são as da Ana Terra e do Capitão Rodrigo. Viraram exertos, devem ser as partes favoritas de vários leitores...

O Capitão Rodrigo, em especial, com aquele jeito espertalhão, briguento, galinha, enfim, aquele jeito típico de macho, cativou para sempre os inúmeros leitores que, durante gerações, acompanharam seu jeito atrevido de viver a vida.

“Toda a gente tinha achado estranha a maneira como o capitão Rodrigo Cambará entrara na vida de Santa Fé. Um dia chegou a cavalo, vindo ninguém sabia de onde, com o chapéu de barbicacho puxado para a nuca, a bela cabeça de macho altivamente erguida, e aquele seu olhar de gavião que irritava e ao mesmo tempo fascinava as pessoas. Devia andar lá pelo meio da casa dos trinta, montava um alazão, trazia bombachas claras, botas com chilenas de prata e o busto musculoso apertado num dólmã militar azul, com gola vermelha e botões de metal. 
Tinha um violão a tiracolo; sua espada, apresilhada aos arreios, rebrilhava ao sol daquela tarde de outubro de 1828 e o lenço encarnado que trazia ao pescoço esvoaçava no ar como uma bandeira. Apeou na frente da venda do Nicolau, amarrou o alazão no tronco dum cinamomo, entrou arrastando as esporas, batendo na coxa direita com o rebenque, e foi logo gritando, assim com ar de velho conhecido: 
– Buenas e me espalho! Nos pequenos dou de prancha e nos grandes dou de talho! 
– Pois dê”
(E aqui entra o Juvenal, outro personagem danado de bom que eu adoro).

Fizeram uma novela nos anos 60.
Uma minissérie nos anos 80 que foi rudemente cortada quando transformada em DVD.
Fizeram também um filme, em preto e branco, mas não achei nada sobre ele na net (preguiça de procurar) e agora fizeram mais um filme.

Bom... Na minissérie da Globo, de 1985, Glória Pires fez o papel de Ana Terra e Tarcísio Meira vestiu a pele do capitão Rodrigo Cambará.
Apesar de algumas imprecisões, como a cor dos olhos do capitão, Tarcísio ficou simplesmente PERFEITO no papel.
Pode-se dizer o mesmo de Glória Pires.

E agora, 27 anos depois, Jaime Monjardin resolve fazer um filme deste belo livro.

O grande problema das refilmagens é que a gente se habitua a determinados atores, e é difícil ver novas pessoas fazendo os personagens aos quais nos acostumamos.

Quem não achou estranho o filho do Will Smith e o Jackie Chan no papel do Daniel San e do professor Miyagi na refilmagem de Karatê Kid levanta a mão.

Como assistir Rocky e Rambo sem o Stallone?
De volta para o Futuro sem Michael J Fox e Christopher Lloyd?
Um novo Han Solo?
Outro Connor Macleod?

Baseada nisso é que eu me peguei lamentando a notícia da refilmagem de O Tempo e o Vento. Quem ele colocaria no papel chave dos dois personagens principais do romance?

Por incrível que pareça, o cara acertou na MOSCA.
Para Ana Terra ele chamou Cléo Pires, filha de Glória. É como ver a mesma Ana Terra de 1985, só um pouco mais bela.

Para Capitão Rodrigo, Jaime Monjardim chamou Thiago Lacerda. Aí eu fiquei meio assim, "pô, logo ele?".

Porque o Thiago Lacerda é o que eu chamo de bonitinho mas ordinário. Lindo - pra mim, um dos caras mais lindos que existem - e sem talento.
Ele é bom em papéis de homem urbano, onde um sorriso constante se faz necessário, mas francamente, ele ficou péssimo como Garibaldi em "A Casa das 7 Mulheres".
Ria muito. Cheio de dentes a todo momento, mesmo nos trágicos. Talvez não seja culpa dele, talvez os diretores mandem que ele sorria o tempo todo como um bobo alegre.

O problema é que Rodrigo Cambará é risonho. Vivia com um sorriso meio torto nos lábios, era bem humorado. Então eu me pergunto se a escolha não foi perfeita.
Embora seja complicadíssimo substituir o ótimo Tarcísio, talvez Thiago faça um bom trabalho no papel do capitão.

É esperar, ansiosamente, para ver.
Espero que eu não tenha que mudar o nome do Blog, de "Lavando a Alma" pra "Obituários de todos os dias".

Enfim...
MInha tia Aracy está internada em catanduva, na UTI já a alguns dias. Teve uma embolia. Tá muito mal.


quarta-feira, 13 de junho de 2012

Hoje morreu minha companheira mais velha.
Frufru.
Estava com 28 anos, bem vividos pra uma égua.
Não sei nem o que dizer, talvez justamente porque não tenha o que dizer. Era a minha preferida.
Acho que eu nunca andei em uma égua tão macia e boa. Mas talvez eu esteja sendo meio cega, porque ela era minha, eu sei que existem muitos cavalos melhores, mas ela foi especial pra mim. Vi nascer, crescer, domar e passamos, desde então, desde 1984, todos esses anos juntas.

Meu Deus, dá a impressão que todos que estão indo levam um pedaço junto...

Esse está sendo, definitivamente, um péssimo ano...

terça-feira, 5 de junho de 2012

Hoje foi embora a última fox Navarra's. Sei que existem mais alguns soltos por aí, mas ela era a última que eu tinha, os outros tem seus donos.
Pipoca (Navarra's Popcorn) foi a escolhida de uma ninhada linda da Pêpa e do Stone. Puxou o pai na índole boa e tranquila e a mãe na porquice.

Morreu como muitos da raça costumem morrer, numa briga, embora ela não fosse afeita à violência. Era uma cadelinha feliz, alegre, que adorava lamber os dedos da gente, enfiar o focinho nas pernas da gente e também adorava crianças de paixão. Seu maior prazer era tentar lamber o rosto da Carol.

Fica em paz, filha.

Segredos do Pedigree (pedigree dogs exposed)

Existe na net um documentário chamado "Segredos do Pedigree". Entre no google, digite na busca esse nome e assista.
Mas antes, leia o texto abaixo.

O documentário "Segredos do pedigree" é triste sob muitos pontos, esclarecedor em outros, mas sem dúvida, é um documentário feito para chocar quem o assiste, como acontece com "a carne é fraca" e "terráqueos". Ele mostra a evolução dos cães de raça do Reino Unido através dos anos e das modificações dos padrões.

O leigo assistirá a tudo pasmado, bradará horrores contra os criadores de cães de raça, sairá às ruas e adotará o primeiro vira latas que encontrar, quer ele queira ser adotado ou não.
Já o criador consciente o verá com olhos profissionais e poderá pesar os parâmetros de sua criação.

Entretanto, ressalto que muitos "argumentos" ali utilizados são bastante controversos, e se os produtores deste documentário querem realmente alertar os criadores e dirigentes cinófilos, tem de partir para o outro lado: o científico.

Ao assistir o documentário, percebi o uso desenfreado da palavra pode: o cão PODE ter um problema, a crista PODE desencadear uma doença. Ao assistir, preste atenção nisso.

As doenças genéticas do cavalier king charles spaniel são as primeiras a serem abordadas: sopro no coração e siringomielia.

E então ali um veterinário diz que, aos 5 anos alguns cães apresentam o sopro e aos 10, eles podem morrer por isso.
Bem, aos 10 anos podem-se considerar muitos cães como idosos. Quando um cão meu morre depois de 10 anos, eu diria que ele teve uma boa vida.

Aliás, eu tive um fox terrier que morreu exatamente 1 mês antes de completar 11 anos, do coração, nas minhas mãos, durante um check up. Ele, até o fim, correu, pulou e pegou bolinhas. Estava meio cego e mais lento, mas continuava a ser O CARA.

Meu primeiro dobermann morreu aos 11 anos, dormindo na calçada, provavelmente por alguma falha cardíaca. Ele já tinha dificuldade de locomoção e surdez, só para citar os problemas maiores. Esquecia onde estava o prato de comida e vinha chorar de fome na porta da cozinha. Defecava e urinava em sua casinha de madrugada, sem conseguir levantar. Tornou-se 100% dependente de nós, e ao morrer, não era o mesmo cão que foi durante toda a vida.

Cães também têm seus problemas de velhice. Não quero dizer com isso que, aos 10 anos, um cão DEVE morrer, mas nessa idade ele não é nenhum brotinho e não se pode esperar que o cão dure até os 20 anos.

Aliás, essa doença cerebral, a siringomielia, é descrita no documentário como uma doença que aperta o cérebro dos cães. Ora, os dobermanns são condenados a uma eterna má fama que perdura há décadas por causa desse sintoma. Vemos, então, que cães que tem esse tipo de doença sofrem dores de cabeça atrozes e morrem. Não atacam seus donos, não há tempo para isso. Graças aos cavaliers, os dobermanns foram, finalmente, inocentados.

Mas vemos aqui, novamente, a falta de dados científicos: o documentário fala: "ninguém sabe exatamente quantos cavaliers tem a doença, mas segundo a veterinária, até 1/3 deles PODE ser afetada. Milhares deles sofrem com a doença no mundo todo".

Mas se não tem dados, como podem afirmar isso?
Dizer ainda que "muitos cães tem sintomas leves ou nenhum sintoma" significa quantos, exatamente?
Eu não duvido que a raça tenha realmente um problema, mas gostaria de mais dados sobre esse 1/3 de cães que podem ser afetados “no mundo todo”. Principalmente porque a raça figura no documentário como bem problemática. Eu realmente gostaria de saber se em outros países os cavaliers são tão doentes, ou se é só o plantel inglês.

O cavalier king charles spaniel é a sexta raça mais criada no Reino Unido. O que aconteceu a eles não pode ter sido a enorme procura, a preços baixos, fazendo com a raça o que já aconteceu aqui no Brasil com tantas outras que caem no gosto popular? Uma degeneração genética por excesso de acasalamentos para tirar pets apresentáveis? 

Porém alguns entrevistados, dentre os quais geneticistas, cientistas, veterinários e a própria entrevistadora, usaram argumentos que invalidam quaisquer ponderações: cruzamentos ilegais em humanos sendo feitos em cães. 

Ora, isso é ofender a inteligência dos criadores e dirigentes. Humanos são humanos e animais são animais.
Eu não criaria meu filho em uma caixa de transporte e o carregaria para cima e para baixo numa coleira.
Meu filho comeria na mesa, não em uma vasilha, no chão.
Minha filha teria a opção de se casar com quem ela quisesse, sem precisar se preocupar em passar seus genes adiante.

É um argumento que não funciona com pessoas que não se colocam no mesmo patamar que os animais.
Não quero dizer com isso que eles são menos importantes que nós e tem de ser tratados de maneira inferior, pelo contrário, porém o argumento mais lógico que poderia modificar a maneira de pensar de muitos criadores seria o científico, com dados comprovados e uma amostragem significativa.
E não dizer "estão fazendo cruzamentos que são ilegais em humanos". Ora, faça-me o favor.

A parte da culpa que cabe às exposições de beleza é bem específica: elas são as responsáveis por tudo.
Eu não vou discordar, apenas acrescentar, que, na verdade, é o ego do homem que faz isso.

Ao criar as competições de beleza, o homem modifica ao seu prazer a aparência dos cães, fazendo com que determinados detalhes deixem de ser importantes. Por outro lado, cada dia mais vemos uma queda drástica na utilização dos cães ditos de "trabalho": caçadores que não caçam mais, guardiões que não guardam mais, animais de tração que não puxam mais nada... 
O homem adapta os cães para serem lindos bibelôs e para isso modificam sua aparência ao seu bel prazer, ou melhor, para "vender mais". 
Os adeptos das linhagens ditas de "trabalho" não são tão melhores, pois ignoram os padrões, alegando que a funcionalidade é superior à beleza e então vemos cães feios porém aptos a uma pseudo função (na verdade um esporte) onde a beleza fica relegada a segundo plano. 
Creio que, atualmente, apenas os cães de pastoreio tem realmente trabalhado. As outras muitas raças, salvo exceções, encontram-se em expectativa. 

Enfim, se existe um padrão, o criador deveria ser obrigado a segui-lo. Modifique-se o padrão e, com o tempo, os criadores modificarão a aparência de seus cães.

Outro ponto que me chamou a atenção no documentário: a diferença enorme entre o pastor alemão (PA) de trabalho e o de exposição. O PA de trabalho conservou suas características originais, o de exposição, não.
Qualquer um que conheça a raça sabe disso.

Mas o veterinário diagnostica ataxia em todos os PA's da exposições só de ver um vídeo? Sem apalpar, sem ver ao vivo, sem pedir chapas e exames, ele fala que os cães de exposição são doentes?
Posso então, enviar um vídeo do meu cão ao meu veterinário e ele fará uma consulta online?

Listaram várias raças e suas respectivas doenças genéticas. Subentende-se que cães mestiços não têm doenças genéticas? E a vira latas que ficou cega devido à diabetes que recolhemos da rua, onde foi abandonada por seus donos que não a quiseram mais?
O que dizer da sarna demodécica que acomete muitos cães de rua?
O documentário sugere que cães de raça são doentes, sem novamente mostrar dados.

Na parte do boxer com epilepsia a narradora começa dizendo que "os boxers têm muitos problemas graves de saúde incluindo doenças cardíacas e alta incidência de câncer, principalmente tumores cerebrais. Como acontece com outras raças, eles sofrem de epilepsia e, secretamente, centenas de donos lutam para enfrentar as situações mais desesperadoras”.

Não entendi o “secretamente". Por que um problema de saúde canino deve ser escondido por um proprietário que só teria a ganhar divulgando quão mal sua raça está? Os donos dos cavaliers debatem os problemas de seus cães abertamente na internet, os donos dos boxers se escondem?
“Os boxers têm muitos problemas de saúde”? Quais são eles?
Zack, o boxer do documentário, tem apenas 2 anos e sofre ataques terríveis de epilepsia. É muito triste vê-lo. Porém, seus donos têm um filhote da mesma raça junto com Zack. Se é filho dele ou comprado, o documentário não diz. Por que, eu me pergunto, se Zack dá tanto trabalho, o casal foi arrumar um filhote da mesma raça tão problemática? Continuar tratando do problema “em segredo”?

No mesmo segmento, a frase: "não há dados oficiais dizendo quantos boxers tem epilepsia", mas o "não dito" insinua que existem muitos.
E se, de repente, não é assim?
E se esse pobre boxer é um caso isolado? Por que só mostraram o caso de Zack, se tantos outros boxers da Inglaterra têm esse problema?

A parte do rhodesian ridgback é onde mais se percebe a manipulação com jogo de palavras. "A crista do rhodesian não tem nenhum propósito", diz a narradora. Pergunto, então, por que nascem com ela? No documentário diz que 1 em cada 20 nasce sem. Se não tem propósito, por que é, aparentemente, dominante?

“Há décadas sabe-se que a crista PODE causar fissuras na coluna, ocasionando sérios problemas". Como o veterinário entrevistado diz que é uma "deformidade", se a raça já veio com esse "problema" desde seu continente de origem, a África?

Então, 10% dos rhodesians apresentam o "cisto dermóide", e todos com a crista. Os que nascem SEM a faixa dorsal não têm a doença. Mas se eles são sacrificados, e se nascem na proporção de 1 para 20, a probabilidade de um deles ter passado por um veterinário com essa doença é muito, muito pequena.

Essa é uma especulação manipulada para chocar leigos. E sabe onde isso fica claro? Justamente na parte em que a criadora entrevistada diz que sacrifica os filhotes que nascem sem a crista.

Na minha opinião, é um absurdo sacrificar um animal saudável, quando poderiam ser castrados e doados, mas ali estão entrevistando uma criadora idosa, antiga, já adaptada a esse procedimento há tantos anos e ela não vai, de repente, mudar o pensamento.
O rhodesian é um cão de porte grande. A probabilidade de alguém aceitar a doação de um cão enorme desses, castrado e sem pedigree (porque, pra essa criadora, nasceu sem a crista, não pode ter pedigree) é minúscula e alimenta a superpopulação canina.
Ela está, na verdade, fazendo uma seleção - errada do ponto de vista ético e moral - e evitando a proliferação de cães, da única maneira que conhece e aceita.

Enfim, se a faixa dorsal causa problemas e é prejudicial, como a raça foi selecionada com essa faixa? Não seria o caso de notarem que os cães portadores da faixa, há décadas têm lesões na coluna, e fazerem os acasalamentos como se faz com os cães “pelados”, onde é obrigatória a inclusão de um “peludo”, ao invés de os sacrificarem, como diz o livro de standard?

Culpar os criadores não resolve, eles acreditam piamente que os cães sem a faixa dorsal têm problemas genéticos e que é mais caridoso sacrificá-los. Rhodesians sem a crista não são rhodesian legítimos, para esses criadores, porque a característica principal da raça está na crista.

Também não adianta colocar o presidente do The Kennel Club (KC) contra a parede, fazendo-o emitir uma opinião pessoal e depois o confrontar com o padrão das raças que determina o sacrifício - "acontece o tempo todo", diz a entrevistadora. Sim, querida, acontece o tempo todo, nos mais diversos países e nas mais diversas raças, não só na Inglaterra.

Ele, o presidente do KC, não rege os padrões. Ele não faz as leis, nem vistoria as ninhadas da hora que nascem ao momento de serem registradas. Ninguém pode controlar isso, só a consciência de cada um. Ele apenas segue "ordens", e não vai entrar em atrito com os criadores que seguem um padrão antigo, que pode ser mudado se houver necessidade ou pressão suficiente.
O homem inclusive é humilde ao dizer que tentará impedir, mas não sabe se terá todo esse poder.

Planos de saúde para cães.
O documentário foi bem "pilantra", mostrando a diferença de preço do plano de saúde de um cão mestiço e de um cão de raça, no caso um bulldog que se supõe seja o inglês, raça essa que se sabe ser totalmente dependente do homem.
O bulldog inglês se reproduz por inseminação, as fêmeas têm suas ninhadas através de cesáreas, são castradas cedo, a raça tem problemas respiratórios e os cães podem morrer em dias muito quentes e abafados. Meio óbvio que o plano de saúde de um cão desses seja mais caro que o de um mestiço.

Mais uma jogada para impressionar os leigos.
Não vou entrar no mérito da raça ter se tornado dependente do homem. Ali o tópico são os acasalamentos consanguíneos, algo que sim, acontece muito nos cães de raça, porém mesmo que não acontecessem, na raça bulldog inglês a única solução é uma modificação radical no padrão e muitos anos de acasalamentos.

O mesmo geneticista que falou anteriormente sobre acasalamentos humanos, falou uma grande bobagem: "no mundo todo as pessoas veem isso com repugnância", dando a impressão que esses acasalamentos são feitos apenas na Inglaterra. Pobre Rainha!

Ora, eles são feitos em diversas partes do mundo; onde existe evolução genética de animais, existe acasalamento consanguíneo, usado nas mais diferentes espécies, não apenas nos cães de raça.
Mesmo na natureza existem acasalamentos consanguíneos.
Se é correto, se é indicado em diversos casos, não vou entrar nesse mérito, mas é fato que esses acasalamentos são feitos no mundo todo, alguns com sucesso e sem deixar sequelas.

O que é esse homem, um cientista, professor, pesquisador, ou líder religioso? Pois, mais a frente, ele dá a entender que é errado o acasalamento entre parentes próximos, mas ele está falando de humanos ou cães? O documentário deixa isso dúbio. 

A pergunta da entrevistadora, nesse ponto, é simplista e exige resposta imediata: "vocês podem proibir acasalamentos entre mãe e filho? É um cruzamento consanguíneo e é inaceitável".
Espera aí, cara pálida, que é consanguíneo eles sabem, mas daí a ser inaceitável, com base em que ela diz isso? Inaceitável para quem? Para os veganos?

Tem que ter prova científica, repito, e com amostragem realmente grande. Não é porque meia dúzia de veganos acha "moral e eticamente inaceitável, pelas leis de Gaia" que os criadores aceitarão.
O presidente do KC diz em determinado momento que conhece os cães que ele cria a 40 anos e ele sabe realizar os acasalamentos para sanar os problemas da raça que ele cria. Todo criador antigo sabe disso.

Lembrando que para cada profissional contra esses acasalamentos, existem outros profissionais a favor, tendo em vista que muitos criadores são veterinários também.
O presidente do KC inclusive foi sincero: “depende da mãe e depende do filho”.
“Se for cientificamente comprovado que trará mais saúde aos cães, sim”, disse o colega deste, um veterinário.

E é aí que entra o questionamento: "o senhor teria um filho com sua filha?".
Para quem se coloca no mesmo patamar que animais irracionais, comparar animais e humanos parece normal, mas não é, e a maioria das pessoas não pensa assim.
Abordagem errada novamente. E, sim, é totalmente diferente.
É até ridículo dizer que "é a mesma coisa". Esse é o tipo de argumento que funciona com veganos.

Gostaria de abrir aspas neste assunto para explicar os diversos tipos de acasalamento feitos na criação de cães no mundo todo:

Outcross é o acasalamento aberto, sem que os cães tenham parentesco entre si.

Linebreeding são os acasalamentos de consanguinidade pouco intensa, ou seja, neto com avó, neta com avô, tios e primos*.

Inbreeding são aqueles de consanguinidade intensa, pai com filha, mãe com filho, entre irmãos.

*Alguns consideram esses 2 últimos como inbreeding.

Cruzamentos consanguíneos são prejudiciais, sim, quando realizados sem estudo e em excesso.

Voltando, o melhor meio de convencer criadores a mudarem as diretrizes de suas criações seria:
a) mudar o padrão das raças;
b) entrar com um argumento genético comprovadamente real (para criadores conscientes).

Os criadores mais antigos têm como base de sua criação o livro de standard do KC. Ora, essas pessoas passaram, digamos, 30 ou 40 anos de suas vidas criando cães de acordo com esse livro e, de repente, chegam pessoas - não criadores - dizendo que não deve mais ser assim e que eles têm que "misturar" suas linhas de sangue com cães genética e fenotipicamente inferiores, só porque cruzamentos consanguíneos são “inaceitáveis”.
Não é fácil exigir isso de uma hora para outra, afinal não se muda a cabeça das pessoas da noite para o dia. Pessoalmente eu sei que EU jamais faria. 

Se os pugs do Reino Unido correm mais risco de desaparecerem que os pandas, com o tempo importações se farão necessárias - nada é impossível na criação. Porém, a raça pug tem problemas no mundo todo e modificar seu padrão é a única forma de combater isso - com o tempo.
Quer um exemplo? Esse documentário fez com que a Inglaterra mudasse o padrão do Pug.
Observa-se que foi a raça que mais dados científicos apresentou em sua defesa e, com isso, uma mudança significativa foi aprovada.

Atacar o KC e seus dirigentes também não foi muito eficaz.
Primeiro que houve uma grande distribuição de culpa e, com isso, mais para frente, uma incoerência: ora culpam o KC, ora o isentam. Ora o colocam como mocinho, ora como vilão.
Afinal, o quanto da culpa pode ser atribuída ao KC?
O KC faz o que pode e o presidente foi taxativo: se muitas regras forem criadas, os criadores se voltarão contra nós, nos abandonarão e farão os mesmos acasalamentos sem nossa permissão.
Não adianta querer imediatismo. Da mesma forma que esses cães demoraram anos para virarem os "monstros" que viraram, demorarão outro tanto de anos para "regredir" a uma forma física saudável, de maneira natural.

O KC tem o apoio do presidente da associação veterinária britânica. Ele diz que só através do KC as mudanças poderão ser feitas.
E, logo depois, vê-se a mudança que o KC realizou pelos cavaliers: exames obrigatórios de saúde de seus cães.
Novamente, foram os dados científicos que fizeram com que a mudança acontecesse, não os apelos sentimentais.
Carol Fawler percebeu que nada mudaria o quadro dos cavaliers do Reino Unido, só uma ação efetiva que batesse de frente com o KC e os criadores, e armou-se com pesquisas científicas para fazer a diferença na raça.

Devagar, alguns padrões estão sendo mudados e os juízes, instruídos a perceber se o cão está saudável ou não – avaliação utópica e difícil de ser feita tão rapidamente como é em um julgamento, salvo se o juiz for veterinário. Mesmo assim, existem problemas que só são constatados por exames.
E nem sempre esses exames são levados em consideração durante uma exposição.

Criadores interpretam o padrão da raça à sua maneira porque existe subjetividade no texto. É fácil perceber isso quando se está lendo um padrão. Não existe uma especificação para tudo que é um cão: um organismo vivo, diferente de seus iguais. Criador A gosta assim, criador B, assado. Os padrões costumam ser tão subjetivos – e suas traduções dos idiomas originais tão medíocres – que ambos os criadores podem criar cães como quiserem, com diferenças gritantes entre eles, e ainda assim estarão dentro do padrão.
Posto como exemplo, a raça dobermann, o Europeu e o Americano:






Ambos os cães são campeões em seus continentes, e no entanto, diferentes como água e vinho.

Notei também que a entrevistadora do documentário tece comentários ofensivos e confronta proprietários e criadores.
Depois pergunta a uma criadora porque ela “não gostou de nos ver aqui” (e foi por causa da falta de tato da entrevistadora, em falar da doença do cãozinho à sua dona logo após ele vencer a competição).
Atacar com perguntas sobre a doença de seu cão, uma pessoa que está comemorando o BIS (Best In Show) de uma especializada da raça é, no mínimo, burrice, pois essa pessoa não irá colaborar e, posteriormente, poderá até fechar olhos e ouvidos ao problema.
Marque uma entrevista depois, converse em particular, gentileza sempre funciona. Mas não, a falta de tato da entrevistadora é gritante. 

Como uma pseudo profissional escolhida para um documentário tão importante, ela deveria saber que um bom repórter se abstém de comentários pessoais e mostra fatos.

Na verdade eu preferiria não ter visto a entrevistadora falar "com certeza, está criando anões com deformidades congênitas", sobre um criador de bassethound e presidente do clube da raça.
O nanismo TAMBÉM existe na natureza. Se a raça é anã, cabe ao criador perpetuar essa característica.
Ora, eu quero fatos, não opiniões. Eu mesma formarei minhas opiniões, se a matéria for bem conduzida.

Não quis dizer, com esse texto, que desaprovo o documentário . O que acontece no reino Unido, acontece também nos EUA, Brasil, e em vários países.
O intuito do meu texto foi o de alertar a quem viu esse documentário e não pesou os prós e contras, simplesmente engoliu tudo como se fosse uma verdade absoluta.

Anos de Brasil em poucas linhas

 Eu queria poder narrar aqui, para deixar registrado mesmo, pois sei que futuramente os indivíduos podres que estão no poder vão reescrever ...