quinta-feira, 28 de junho de 2012


Eu sou fã incondicional do Romance O Tempo e o Vento, de Érico Veríssimo.

Gosto muito mesmo. Já li não sei quantas vezes, e minhas partes favoritas - como não poderia deixar de ser - são as da Ana Terra e do Capitão Rodrigo. Viraram exertos, devem ser as partes favoritas de vários leitores...

O Capitão Rodrigo, em especial, com aquele jeito espertalhão, briguento, galinha, enfim, aquele jeito típico de macho, cativou para sempre os inúmeros leitores que, durante gerações, acompanharam seu jeito atrevido de viver a vida.

“Toda a gente tinha achado estranha a maneira como o capitão Rodrigo Cambará entrara na vida de Santa Fé. Um dia chegou a cavalo, vindo ninguém sabia de onde, com o chapéu de barbicacho puxado para a nuca, a bela cabeça de macho altivamente erguida, e aquele seu olhar de gavião que irritava e ao mesmo tempo fascinava as pessoas. Devia andar lá pelo meio da casa dos trinta, montava um alazão, trazia bombachas claras, botas com chilenas de prata e o busto musculoso apertado num dólmã militar azul, com gola vermelha e botões de metal. 
Tinha um violão a tiracolo; sua espada, apresilhada aos arreios, rebrilhava ao sol daquela tarde de outubro de 1828 e o lenço encarnado que trazia ao pescoço esvoaçava no ar como uma bandeira. Apeou na frente da venda do Nicolau, amarrou o alazão no tronco dum cinamomo, entrou arrastando as esporas, batendo na coxa direita com o rebenque, e foi logo gritando, assim com ar de velho conhecido: 
– Buenas e me espalho! Nos pequenos dou de prancha e nos grandes dou de talho! 
– Pois dê”
(E aqui entra o Juvenal, outro personagem danado de bom que eu adoro).

Fizeram uma novela nos anos 60.
Uma minissérie nos anos 80 que foi rudemente cortada quando transformada em DVD.
Fizeram também um filme, em preto e branco, mas não achei nada sobre ele na net (preguiça de procurar) e agora fizeram mais um filme.

Bom... Na minissérie da Globo, de 1985, Glória Pires fez o papel de Ana Terra e Tarcísio Meira vestiu a pele do capitão Rodrigo Cambará.
Apesar de algumas imprecisões, como a cor dos olhos do capitão, Tarcísio ficou simplesmente PERFEITO no papel.
Pode-se dizer o mesmo de Glória Pires.

E agora, 27 anos depois, Jaime Monjardin resolve fazer um filme deste belo livro.

O grande problema das refilmagens é que a gente se habitua a determinados atores, e é difícil ver novas pessoas fazendo os personagens aos quais nos acostumamos.

Quem não achou estranho o filho do Will Smith e o Jackie Chan no papel do Daniel San e do professor Miyagi na refilmagem de Karatê Kid levanta a mão.

Como assistir Rocky e Rambo sem o Stallone?
De volta para o Futuro sem Michael J Fox e Christopher Lloyd?
Um novo Han Solo?
Outro Connor Macleod?

Baseada nisso é que eu me peguei lamentando a notícia da refilmagem de O Tempo e o Vento. Quem ele colocaria no papel chave dos dois personagens principais do romance?

Por incrível que pareça, o cara acertou na MOSCA.
Para Ana Terra ele chamou Cléo Pires, filha de Glória. É como ver a mesma Ana Terra de 1985, só um pouco mais bela.

Para Capitão Rodrigo, Jaime Monjardim chamou Thiago Lacerda. Aí eu fiquei meio assim, "pô, logo ele?".

Porque o Thiago Lacerda é o que eu chamo de bonitinho mas ordinário. Lindo - pra mim, um dos caras mais lindos que existem - e sem talento.
Ele é bom em papéis de homem urbano, onde um sorriso constante se faz necessário, mas francamente, ele ficou péssimo como Garibaldi em "A Casa das 7 Mulheres".
Ria muito. Cheio de dentes a todo momento, mesmo nos trágicos. Talvez não seja culpa dele, talvez os diretores mandem que ele sorria o tempo todo como um bobo alegre.

O problema é que Rodrigo Cambará é risonho. Vivia com um sorriso meio torto nos lábios, era bem humorado. Então eu me pergunto se a escolha não foi perfeita.
Embora seja complicadíssimo substituir o ótimo Tarcísio, talvez Thiago faça um bom trabalho no papel do capitão.

É esperar, ansiosamente, para ver.

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