segunda-feira, 28 de maio de 2018

Alguns fatos sobre mim, sobre a minha vida e personalidade:

Ganhei meu primeiro carro em 1991, pouco antes de fazer 18 anos - uma Brasília 1970, branca. Aliás Brasílias eram uma constante em nossa pequena família: meu pai teve, minha mãe teve, eu tive. Praticamente SÓ TIVEMOS BRASÍLIAS durante minha infância.


Aos 11 anos, eu já voltava da escola de ônibus, pra casa. Aos 13 eu comecei também a ir pra escola de ônibus - meu vô ia comigo até o ponto nos primeiros dias.


Os únicos lugares pra onde eu viajei de avião estão situados no Nordeste Brasileiro (Ceará, Rio Grande do Norte, Maceió e Bahia); no mais, eu sempre andei de ônibus.


O único lugar que eu conheço fora do Brasil é a Argentina (ah é, fui pra lá de avião também), a não ser que aquelas viagens de bate e volta pro Paraguai contem. Nunca fui pros EUA, nunca fui pra Europa. E nessa altura do campeonato, duvido que irei algum dia.


Minha filha nasceu na santa Casa de Birigui, pelo SUS, sem convênio médico - e assim continua até hoje, sem convênio.


Minha mãe ficou 10 dias na UTI da Unimed, sem convênio (na pressa em socorrê-la, eu acabei parando lá antes de chegar ao PS). Isso talvez tenha salvado sua vida (a velocidade com que eles a atenderam). A conta ficou em uns 50 mil reais, que eu paguei vendendo meu carro, pedindo dinheiro emprestado e parcelando o restante. Cada tomografia (ela chegava a fazer até 2 por dia) ficava em 900 reais, pagos antecipadamente.


A primeira vez que minha filha teve uma "virose", ela foi socorrida no Pronto Socorro da cidade, que não tinha "ala pediátrica".


A UBS do meu bairro é a UBS 7, e tenho o telefone deles no meu celular até hoje, se precisar.


Minha mãe nunca conseguiu home care nem fraldas ou alimentação em latas pela prefeitura, eu entrava com o pedido e como não podiam negar, eles simplesmente "sumiam" com o papel. Eu fiz tudo - paguei desde o enfermeiro que vinha dar banho nela até a fisioterapeuta e as latas e fraldas que ela usava. Recebi doações de outras pessoas, de amigos, nunca do governo.


Estou esperando uma endoscopia desde setembro de 2016 pelo SUS.


Parei de dar aulas para cuidar da minha mãe, pois o salário de uma cuidadora era mais do que eu ganhava.


Tive que vender vários carros que eu financiei por não conseguir pagar a prestação. Nunca consegui comprar um carro "semi novo" à vista, só financiado. Os que eu comprei à vista tem mais de 20 anos.


Em alguns dias, numa das piores crises financeiras por nosso comércio ter quebrado, em 2014, eu ia comer um salgado na cantina do fórum na hora do almoço - era mais barato que pedir marmita, assim a grana durava mais.


Minha filha já deixou de ir para a escola por não ter combustível no carro, nem nada pra colocar de lanche na mochila.


Já tomei água no café da manhã por não ter dinheiro e deixar a única caixinha de leite pra Carol.


Tenho dívidas pessoais - parentes e amigos - que ainda não quitei. Devo pro banco mais do que posso pagar.


Ajudei a eleger Lula, e vi que a esquerda nunca passou de uma direita disfarçada e pior, muito pior... Hoje voto só na direita, QUANDO VOTO.


Quando morei em SP, morava perto de santo Amaro/Interlagos, e não em algum bairro chique. Meu bairro não tinha praças, árvores, bares finos ou cafés, nem lojas. Nosso shopping era (acho que ainda é) o Interlagos.


Fiz várias vezes o percurso Avenida paulista - Avenida Joaquim Nabuco esquina com Washington Luis (minha avó morava na rua Atica) a pé por ter sido furtada na escola (Objetivo Paulista) e não ter coragem de descer do ônibus por trás.





Na esteira das recordações, vou contar como era nos 4 anos que eu usei o sus com a minha mãe.

Ela NÃO TINHA CONDIÇÕES de ir de carro, precisava ir de ambulância, não precisava de oxigênio mas precisava ir deitada. Não precisando do oxigênio, uma simples ambulância fiorino poderia leva-la, não era necessária uma UTI móvel.
Mas cansei de contar as vezes em que ela perdeu a consulta e teve que ser remarcada por "falta de ambulância" e "falta de combustível". Um dia eu tive que IR BUSCAR A EQUIPE pra uma visita em casa, pq NÃO TINHA GASOLINA NOS CARROS DAS UBS.

As viagens de ambulância eram sempre marcadas com antecedência. Confirmados um dia antes e confirmados na data. Uma das (ir)responsáveis pelo agendamento das ambulâncias era uma senhora arrogante e escrota que hoje deve ter se aposentado, espero... Minha casa é construída sobre uma laje piso. A entrada fica no meio e o acesso se dá por um corredor de 1m de largura. Uma maca NÃO PASSA por ali, elas não viram, só passam reclinadas.
Minha mãe, quando teve o AVC, era pesada e precisava sair PELA JANELA do quarto dela, um procedimento arriscado, sim, mas necessário, que me obrigada a sempre pedir ambulâncias de MACA BAIXA. Os meninos do resgate falaram que sempre que eu precisasse, que ligasse e pedisse pra eles, que eles viriam ajudar, afinal não era obrigação do motorista, certo?
Enfim, um dia eu perguntei pra essa mulher quando a ambulância viria, pq eu precisava ligar pros meninos do resgate (eles vinham num carro baixo, não na van de resgate) e ela literalmente COMEU MEU RABO, que era um absurdo eu deslocar tantas pessoas para transportar apenas uma. Eu ainda fui educada, sério, humilde, apavorada de ter aquele serviço negado, "mas moça, na minha casa a maca não passa na porta, é o único jeito de tirar a minha mãe dali", e eu ouvi dela: MUDA DE CASA ENTÃO.

Aquilo me remoeu por muito, muito tempo. Então eu pagava meus impostos, meu IR, pra ouvir esse tipo de coisa? Me peguei pensando no quanto eu me rebaixava, pedia, implorava, esperava, corria atrás... Meu pensamento era "engole a humilhação pq sua mãe precisa dessa pessoa". E mesmo assim, uma das consultas mais importantes no neurocirurgião da outra cidade, ela perdeu por birra dessa mulher. Eu demorei UM ANO pra conseguir remarcar de novo, e mesmo assim pq eu ia nos postinhos implorar pros chefes, e numa das trocas de liderança e prefeitura, eles conseguiram "encaixar" minha mãe. Nesse meio tempo, minha mãe emagreceu, lógico. Passou a pesar 40Kg e era só carregar no colo até a maca, que parava na porta do lado de fora - eu não tive condições de mudar de casa, como sugeriu a mulher do agendamento das ambulâncias.
Só que, dessa vez, eu fui vacinada. Dessa vez eu liguei e perguntei que horas a ambulância vinha, e me falaram que "já já", não tinha "nenhuma no momento. Bom... A hora limite pra gente sair de casa pra não perder a consulta chegando e nada da ambulância... Eu liguei lá... e falei naquele tom gentil que me é peculiar:

- SE ESSA AMBULÂNCIA CHEGAR ATRASADA, SE EU PERDER A CONSULTA DESSE MÉDICO, EU VOU AÍ COM A POLICIA, COM A TELEVISÃO, EU VOU DESTRUIR VOCÊS, EU QUEBRO TUDO, MOÇA, EU VOU PRESA MAS PODE TER CERTEZA QUE O NOME DE VOCÊS VAI APARECER EM REDE NACIONAL!!!

Infelizmente não era a chefe, era a subordinada (pra quem depois eu liguei e pedi mil desculpas), mas veio uma ambulância legalzinha e nos levou à consulta... Acha que acabou aí? Naaaaahhhh...

Conversando à toa com o motorista, ele me disse que O PÁTIO ESTAVA CHEIO DE CARROS, e que a chefe tinha esperado ele chegar, mandado ele levar a gente e "largar lá, que eu que me virasse pra voltar, pq ambulância não é táxi, assim ela aprende".
Minha pressão foi no céu. Brigar com o motorista, não ia adiantar. O que eu fiz? Liguei pra minha advogada, contei o ocorrido e ela disse que, se precisasse, que eu chamasse a TV e a PM e lavrasse um BO, pq estavam negando atendimento á minha mãe, maior de 60 anos, acamada, ou seja, uma pessoa com NECESSIDADE ESPECIAL DUPLA. Enquanto eu passava pela consulta com o neuro, depois de 1 ano, ela fez umas ligações e, ao sair, me esperava uma semi UTI móvel (não era van, mas era quase), que O PRÓPRIO PREFEITO tinha mandado ir me buscar, e queria saber pq aquilo estava acontecendo...
Dizem que a chefe das ambulâncias tomou uma comida de rabo... Me senti vingada... Esse foi o resumo de apenas UMA das coisas que a gente passa quando depende de serviço público...
Quando minha mãe teve o AVC e depois de 10 dias, conseguiu vaga no SUS, o que eu mais ouvia era: "precisa fazer tal procedimento, mas tá em falta".
O neuro me explicou, depois, que as sequelas que ficaram nela não foram (só) por causa do AVC, mas principalmente pela demora em colocar uma válvula e drenar a água do cérebro, uma hidrocefalia que ela teve depois. Por causa disso ela passou os próximos 4 anos acamada em estado vegetativo.
"Precisa fazer um exame, mas não temos como fazer nesse hospital e não dá pra levar de ambulância pq ela não aguenta a viagem", "temos que fazer tal medicamento, mas não temos no momento, esperando chegar, já fizemos o pedido", "estamos esperando a visita do infectologista pq a infecção da sua mãe está muito resistente", "precisamos colocar uma sonda na sua mãe mas o responsável precisa assinar o pedido, tem que ver se vai ser aprovado pq é uma sonda Tal e custa caro".
A tal sonda custava menos de 50 reais, e eu me ofereci pra comprar, PELO AMOR DE DEUS, e eles disseram que o SUS não aceita esse tipo de conduta.
E eu esperava, vendo minha mãe piorar ou melhorar conforme as coisas iam chegando. E eu rezava. Nunca rezei tanto na minha vida.
Na época, não teve greve de caminhão... Teve, sim, e eu não estou falando especificamente da minha cidade, superfaturamento de remédios, de material, desvio de verbas que deveriam ser pro SUS, isso sim, sempre teve e vai continuar tendo.
Então, o próximo que vier me falar "e se fosse um parente seu no hospital esperando chegar um medicamento", eu vou perguntar se essa pessoa já ficou dependente do SUS muito tempo ou se ela tem convênio médico.

Fiz esse texto para comentar sobre a greve dos caminhoneiros que já dura 7 dias. 

sexta-feira, 11 de maio de 2018

Paulo me convidou para participar do blog dele, o "precisamos falar sobre...".

Para quem curte textos reflexivos, é uma boa pedida, pois não estaremos sozinhos, mais gente vai participar.

Meu primeiro texto é uma adaptação do que eu escrevi a alguns anos atrás sobre "comprar ou adotar um cão", no blog do Canil. Adaptei "cão" para "animais em geral".

A hospedagem está no Wordpress mas em breve talvez mude para um domínio próprio.

Enjoy it!


Anos de Brasil em poucas linhas

 Eu queria poder narrar aqui, para deixar registrado mesmo, pois sei que futuramente os indivíduos podres que estão no poder vão reescrever ...