segunda-feira, 28 de maio de 2018

Na esteira das recordações, vou contar como era nos 4 anos que eu usei o sus com a minha mãe.

Ela NÃO TINHA CONDIÇÕES de ir de carro, precisava ir de ambulância, não precisava de oxigênio mas precisava ir deitada. Não precisando do oxigênio, uma simples ambulância fiorino poderia leva-la, não era necessária uma UTI móvel.
Mas cansei de contar as vezes em que ela perdeu a consulta e teve que ser remarcada por "falta de ambulância" e "falta de combustível". Um dia eu tive que IR BUSCAR A EQUIPE pra uma visita em casa, pq NÃO TINHA GASOLINA NOS CARROS DAS UBS.

As viagens de ambulância eram sempre marcadas com antecedência. Confirmados um dia antes e confirmados na data. Uma das (ir)responsáveis pelo agendamento das ambulâncias era uma senhora arrogante e escrota que hoje deve ter se aposentado, espero... Minha casa é construída sobre uma laje piso. A entrada fica no meio e o acesso se dá por um corredor de 1m de largura. Uma maca NÃO PASSA por ali, elas não viram, só passam reclinadas.
Minha mãe, quando teve o AVC, era pesada e precisava sair PELA JANELA do quarto dela, um procedimento arriscado, sim, mas necessário, que me obrigada a sempre pedir ambulâncias de MACA BAIXA. Os meninos do resgate falaram que sempre que eu precisasse, que ligasse e pedisse pra eles, que eles viriam ajudar, afinal não era obrigação do motorista, certo?
Enfim, um dia eu perguntei pra essa mulher quando a ambulância viria, pq eu precisava ligar pros meninos do resgate (eles vinham num carro baixo, não na van de resgate) e ela literalmente COMEU MEU RABO, que era um absurdo eu deslocar tantas pessoas para transportar apenas uma. Eu ainda fui educada, sério, humilde, apavorada de ter aquele serviço negado, "mas moça, na minha casa a maca não passa na porta, é o único jeito de tirar a minha mãe dali", e eu ouvi dela: MUDA DE CASA ENTÃO.

Aquilo me remoeu por muito, muito tempo. Então eu pagava meus impostos, meu IR, pra ouvir esse tipo de coisa? Me peguei pensando no quanto eu me rebaixava, pedia, implorava, esperava, corria atrás... Meu pensamento era "engole a humilhação pq sua mãe precisa dessa pessoa". E mesmo assim, uma das consultas mais importantes no neurocirurgião da outra cidade, ela perdeu por birra dessa mulher. Eu demorei UM ANO pra conseguir remarcar de novo, e mesmo assim pq eu ia nos postinhos implorar pros chefes, e numa das trocas de liderança e prefeitura, eles conseguiram "encaixar" minha mãe. Nesse meio tempo, minha mãe emagreceu, lógico. Passou a pesar 40Kg e era só carregar no colo até a maca, que parava na porta do lado de fora - eu não tive condições de mudar de casa, como sugeriu a mulher do agendamento das ambulâncias.
Só que, dessa vez, eu fui vacinada. Dessa vez eu liguei e perguntei que horas a ambulância vinha, e me falaram que "já já", não tinha "nenhuma no momento. Bom... A hora limite pra gente sair de casa pra não perder a consulta chegando e nada da ambulância... Eu liguei lá... e falei naquele tom gentil que me é peculiar:

- SE ESSA AMBULÂNCIA CHEGAR ATRASADA, SE EU PERDER A CONSULTA DESSE MÉDICO, EU VOU AÍ COM A POLICIA, COM A TELEVISÃO, EU VOU DESTRUIR VOCÊS, EU QUEBRO TUDO, MOÇA, EU VOU PRESA MAS PODE TER CERTEZA QUE O NOME DE VOCÊS VAI APARECER EM REDE NACIONAL!!!

Infelizmente não era a chefe, era a subordinada (pra quem depois eu liguei e pedi mil desculpas), mas veio uma ambulância legalzinha e nos levou à consulta... Acha que acabou aí? Naaaaahhhh...

Conversando à toa com o motorista, ele me disse que O PÁTIO ESTAVA CHEIO DE CARROS, e que a chefe tinha esperado ele chegar, mandado ele levar a gente e "largar lá, que eu que me virasse pra voltar, pq ambulância não é táxi, assim ela aprende".
Minha pressão foi no céu. Brigar com o motorista, não ia adiantar. O que eu fiz? Liguei pra minha advogada, contei o ocorrido e ela disse que, se precisasse, que eu chamasse a TV e a PM e lavrasse um BO, pq estavam negando atendimento á minha mãe, maior de 60 anos, acamada, ou seja, uma pessoa com NECESSIDADE ESPECIAL DUPLA. Enquanto eu passava pela consulta com o neuro, depois de 1 ano, ela fez umas ligações e, ao sair, me esperava uma semi UTI móvel (não era van, mas era quase), que O PRÓPRIO PREFEITO tinha mandado ir me buscar, e queria saber pq aquilo estava acontecendo...
Dizem que a chefe das ambulâncias tomou uma comida de rabo... Me senti vingada... Esse foi o resumo de apenas UMA das coisas que a gente passa quando depende de serviço público...

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