domingo, 1 de julho de 2012


É triste que tia Aracy, mais uma do grupo do riso da família tenha ido embora hoje, ainda nova, aos 70 e poucos anos. Mas se há reencontros depois dessa vida, e deve haver, o céu estará em festa por uns dias. Tia Aracy será recebida com as risadas sonoras de minha mãe e da minha avó, que eram especialistas na alegria da vida; com o abraço saudoso da filha Triana, essa, então, o amor traduzido em pessoa durante cada minuto de toda sua existência. O mais próximo de anjo que eu conheci. Tio Márcio já deve ter preparado suas piadas em coro com o Chico Livramento, tia Cleide, tio Misseno, tia Missena, tio Orlando...ou talvez uma mesinha de baralho. Receberá o abraço de doçura italianíssima da Mafalda. Haverá outros encontros. Com o pai, o grande e magnânimo Francisco Costa e irmã Ana Costa, dois de que só conheci a fama. Ela não estará sozinha nunca. A festa será grande. Por isso não quero chorar. Quero só lembrar dos momentos ricos que vivi com ela, do prazer que era comentarmos livros e filmes naquela mesa da cozinha com a garrafa de café sempre cheia. Vou olhar mais ainda para o quadro que tenho na sala, da fase pintura da pessoa criativa que foi em todos os âmbitos da vida. Além de criativa, crítica, inteligente, forte a ponto de deixar o cigarro sem problemas depois de fumar diária e compulsivamente por mais de 30 anos. Tia Aracy querida. que dê tempo de descansar antes da festança para a qual está indo. Nós ficamos aqui imaginando e sorrindo junto.


Telma Costa Gomes
há 3 horas próximo a São Paulo
Minha infância foi rodeada de tios, embora eu morasse no interior e eles em São Paulo. Isso fazia com que a cada vinda eu ficasse imaginando como seria. E tia Aracy, que faleceu hoje, era a tia que me deixava mais curiosa. "Qual a nova história que ela vai ter pra contar?" E eram muitas. Sempre novidadeiras e que viravam lendas. Como a de que, sonâmbula, levantou a cama no muque de madrugada...com meu pequeno tio de 2 metros de altura em cima. Ou que na adolescência, também sonâmbula, tentou esganar uma das irmãs que queria im pedi-la de sair de casa rsrs. Houve a bateria completa que deu para minha prima, deixando todos os vizinhos loucos com as batucadas e nós, primas, extasiadas com aquela excentricidade. Que amava os animais, os de rua, preferencialmente. O que me fazia pensar qual seria o novo nome de cachorra. Me lembro da Madonna, mas foram muitos. Vira-lata de tudo e amada como poucos. E as histórias sobre os Deuses Astronautas que ela havia lido? Menina, me fascinava ouvi-la contar com a memória que foi prodigiosa até o fim. Fumava muito, míope total, dirigia aceleradíssima, falava palavrão, era anticonvencional, gostava da vida e risada farta. A mim, parecia que tudo que tinha a ver com ela era emocionante. Ao lado de minha mãe era a união da risada com o xixi para todos. Muitas corridas ao banheiro para não fazer nas calças. E isso era sempre. Quem a conheceu lembra exatamente disso. Se no final da vida não riu tanto, tenho certeza que agora está fazendo isso ao lado de todos aqueles, e de muitos outros, que citei na postagem anterior. Eu chorei hoje sim, tia. Mas já estou sorrindo de novo. E esperando algum sonho engraçado que vai me mandar para estar presente. Ah, e por último, me pergunto e espero que sim, que eu seja uma tia como ela para meus seis sobrinhos. Seria a grande herança que tia Aracy me deixou.

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Era exatamente assim que eu via a Tia Aracy.

 A mim cabe acrescentar o prazer que era ouvir as hilárias histórias das brigas no trânsito, ou as mil dicas da tia expert criadora de dálmatas durante tantos anos.
Lembro que meu pedido mais constante quando pequena era pra ir na casa da Tia Aracy pra ver os cães, brincar e ouvir as histórias e piadas. Michel e Andréia foram os dálmatas mais amados da família.
Quando mais velha, adorava ir lá ver os cães, ouvir as histórias e piadas e curtir a casa cheia de gente jovem, amigos dos meus primos, cantando, jogando, tocando violão, contando casos engraçados das baladas, discutindo filmes, livros, músicas.

A casa da Tia Aracy e do Tio Mané foi, durante anos, o paraíso de gente jovem, como eu.
Como disse a Telma tão bem, ouvir a Tia contar sobre os livros que havia lido era como lê-los. Ela contava minúcias das histórias, tão empolgante que fazia a gente querer ler todos, daquela estante imensa.
O prazer de por a mão em seus livros só era igualado à enorme estante da casa da Tia Nenê, ou fuçar o quartinho dos fundos da casa da Tia Ruth - ali sim tinha coisa pra caçar. Saudades imensas da velha casa de tijolinho à vista com portão baixinho. Nunca consegui acostumar com o apartamento.

Fica aqui a saudade, a eterna saudade, de todos eles...

Anos de Brasil em poucas linhas

 Eu queria poder narrar aqui, para deixar registrado mesmo, pois sei que futuramente os indivíduos podres que estão no poder vão reescrever ...