quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Hoje eu fiquei sabendo de algo que aconteceu e, sinceramente, me deixou muito chateada.
Nem sei porque eu fiquei TÃO chateada. Mas fiquei.

O fato é que, a anos atrás, passava aqui na minha rua uma senhora vendendo verduras com uma carriola, dia sim, dia não.
Uma senhora gorda, vestida com panos feios, avental na cabeça pra se proteger do sol.
Um dia até fui mal educada com ela, porque ela ficava insistindo na porta até alguém aparecer, gritando "vai verdura, fia?".

E minha mãe reparou esses dias que ela sumiu, e apareceu outra mulher no lugar dela, uma senhora magra, bem diferente. Mas já tem uns meses que ela sumiu assim, nós que só percebemos essa semana, sei lá porque.

Bom, minha mãe foi hoje na padaria ali da avenida e ficou sabendo o que aconteceu com a verdureira.
Ela fez uma operação bariátrica pelo SUS e... morreu.
Eu sei que, pelo SUS, a operação que fazem é a capella, ou alguma variação dessa. Consiste na redução do estômago e, em alguns casos, a colocação de um anel.
O paciente pode beber à vontade, mas comer, só pode 50ml. Equivale a um copinho de café.
A minha foi escopinaro, é redução de estômago e desvio de intestino. Meu estômago pode ingerir até 500ml. Não tem anel.

A filha dela contou que ela chorava de fome e sempre que tentava comer a mais, vomitava.
Até que deu complicação, lógico, e ela morreu.

E eu escutei aquilo e... comecei a chorar...
Fiquei deprimida mesmo, como se fosse alguém do meu círculo de amizade.
E eu nem gostava muito dela.
Mas, sei lá porque, me deu um aperto no peito, não sei se eu lembrei da Triana que morreu numa operação dessas também, ou porque a situação foi bizarra, caramba, a mulher só queria fazer uma operação pra emagrecer, e eu sei que uma bariátrica não é fácil, não é milagrosa, essa mulher não teve apoio psicológico?

Não é assim que funciona, não é porque não cabe que a gente passa a, de repente, não querer comer. A fome e a gula continuam como antes.

Ao mesmo tempo que essa cambada de político vagabundo libera verba de milhões pra fazer campanha das olimpíadas no RJ, eles alegam que não tem verba pra saúde (dentre outras coisas).

Aí sei lá também, eu tive torção - nó nas tripas - sei a dor que é e sei também que se eu não tivesse Unimed teria morrido, e essa coitadinha não teve porra nenhuma, porque era uma favelada, que vendia verdura de porta em porta, de sol a sol, pra poder ajudar em casa. Teve que ser atendida em PS, vai saber se morreu à míngua, vai saber qual médico atendeu, será que teve socorro? Orientação?
Será que teve ajuda? Alguém pra cozinhar pra ela, pra fazer suco e dar de meia em meia hora, alguém que cozinhasse só papinha, como eu tive tanta gente pra me ajudar? E mesmo com tanta gente de olho eu fiz cagada... Será que ela teve grana pra só comer coisas lights como mandam na dieta?

E eu tô aqui escrevendo - pessimamente, diga-se de passagem - e chorando litros, baldes, derramando lágrimas como se eu tivesse perdido algum conhecido.

Eu não sei nem o nome dela. Não sei onde mora, não sei nada, na verdade não sei nem quando ela faleceu, eu que fiquei sabendo hoje, ela pode ter morrido a dias já! Semanas, meses!

Só sei que ela, uma ilustre desconhecida pra mim, morreu porque quis ficar mais magra.
Quem sabe um dia eu descubra porque essa história me afetou tanto.

Fica aqui registrada minha tristeza pelo falecimento de um ser humano que quis usufruir de algo que deveria ser seu por direito, mas que, nesse país de merda, é utopia pura: um sistema médico decente.

2 comentários:

Roberto Nakashima disse...

Realmente a história é tocante e revela mais uma vez a quantas anda a saúde no país, os direitos não cumpridos do cidadão comum e a transparência em que vivem as pessoas da classe pobre brasileira, transparência porque ninguém os nota, os vê, os percebe. Poucos conseguem perceber ou se sensibilizar como vc.

Paulo Otah disse...

isso que dá votar no lula
:)

Anos de Brasil em poucas linhas

 Eu queria poder narrar aqui, para deixar registrado mesmo, pois sei que futuramente os indivíduos podres que estão no poder vão reescrever ...