sábado, 4 de abril de 2009

O porre - este abençoado!!

Porre - sm. Bras. Pop. V. bebedeira (1).


Assim está no Aurélio, aquele dicionário que todos nós um dia já abrimos. Porre é bebedeira. Mas só? Só isso? Não, porre é muito mais que uma simples bebedeira. Porre é a supra bebedeira, a rainha das bebedeiras!

Pra que serve o porre? Desanuviar a cabeça, desopilar o fígado (afinal, é sabido que o riso desopila qualquer merda, e quando a gente bebe, ri que nem idiota. O fato da bebida acabar com o fígado a longo prazo é irrelevante), chamar Jesus de Genésio e urubu de meu loiro.


No porre o ogro vira fauno e a medusa vira ninfa. Você olha aquele monumento na sua frente dando sopa, agarra e arrasta (ou pelo menos tenta). Afinal, o que pode acontecer a dois elfos apaixonados numa noite de amor e bebedeira? Bom...

Você pode descobrir ao colocar a mão dentro da calcinha da ninfa que ela na verdade é ele. Aí a bebedeira passa, porque o susto é grande. Mas se você for adepto do vale-tudo, nem vai ligar. O fauno maravilhoso pode ficar inconvenientemente mole na sua mão, se ele também estiver de porre. Ou pode ficar maravilhosamente duracel - a pilha que dura, dura, dura e não pára!! Pode dormir depois de uns amassos, e enfurecer a pessoa ao lado. Ao acordar, se ainda tiver alguém ali, você pode rapidamente avaliar os danos sofridos ou evitados: o ogro volta a ser ogro, a medusa volta a ter serpentes na cabeça. Nesse ponto começam as promessas: Juro que nunca mais bebo na vida!. Mentira, claro.

O porre serve ainda pra chorar as mágoas pela dor de cotovelo, sem sentir culpa nem vergonha. Afinal, quando estamos de porre, perdemos a noção do que estamos fazendo e não podemos ser responsabilizados por nossos atos. Você excomunga a(o) infeliz que te desprezou e jura vingança. Ta certo que depois você nem vai lembrar de nada e aí recomeça a ladainha.

Pior mesmo é quando, além de beber, você da esporro em amigos que não tem nada a ver com o angu. Peça desculpas no dia seguinte, seu amigo vai entender. Embora ao mesmo tempo ele vá lhe contar, só de sacanagem, o que você aprontou e não se lembra (e talvez aumente um pouco a dose, ou pelo menos, é isso que você vai pensar, nunca lhe ocorrendo que ele pode estar sendo sincero).

No porre também você xinga de VACA aquela amiga que cantou (e ganhou) o cara que você disse a ela que estava a fim, chama de escroto o amigo que consolou a sua ex e hoje está namorando com ela (provavelmente foi ele que entregou você). Fala e faz coisas que nunca teria coragem de fazer sóbrio.

Agora você se pergunta: mas porre é só coisa ruim? Hehehe, claro que não, deixamos a parte boa pro fim...
Lindas poesias são criadas em estado de porre. O medo desaparece e a caneta corre solta no guardanapo do boteco, vindo na cabeça, não saindo de dentro dela até ser toda colocada no papel. O choro (indispensável no porre feminino) alivia o âmago do ser, libera em formato aquoso sentimentos represados por diversos motivos. Se existe culpa, existem lágrimas. No porre não existe futuro, apenas presente e passado. Embora durante o porre possamos relegar pessoas e situações ao passado, nada é definitivo. Todas as resoluções que tomamos no porre (e que são as acertadas, porém nunca seguidas) são repensadas quando sóbrios. O porre faz bem ao caráter! Dizemos as mais puras e indiscutíveis verdades.

Enfim, quem nunca tomou ao menos UM porre não sabe o que está perdendo. Aos que tomaram e não souberam curtir, tomem outro. E para aqueles que tomam sempre mas nunca aproveitam, comecem a repensar seus porres...

Escrito por Maetê e publicado em 26/11/2001 na coluna "Do It Yourself" da 02 neurônio (na época que ficava no endereço http://www.02neuronio.com.br/).

Nenhum comentário:

Anos de Brasil em poucas linhas

 Eu queria poder narrar aqui, para deixar registrado mesmo, pois sei que futuramente os indivíduos podres que estão no poder vão reescrever ...