segunda-feira, 9 de outubro de 2006

Eu não preciso que ninguém me fale que eu sou chata, curiosa demais, ciumenta, passional, orgulhosa, que minha língua é afiada pra caralho, que eu dou foras homéricos, que eu adoro provocar, enfim... EU SEI de tudo isso, porra.
Pra complementar a lista, acrescento ainda que sou intrometida, bocuda, egoísta, preguiçosa, impaciente com determinadas coisas, preconceituosa com algumas classes de pessoas, por vezes mal educada, brava, compro briga dos meus amigos, confio cegamente nas pessoas e outras "qualidades" que talvez eu lembre conforme for escrevendo.

Mentirosa? Hum... Depende. Sei mentir bem, se é isso que faz de uma pessoa uma mentirosa. Invento uma história rápida e convincente. E minto sem piscar, se for preciso.

Tive que aprender, pra falar pro meu pai porque a professora não havia passado lição de casa (ela passava, mas eu não copiava), porque eu estava vadiando no metrô, quando deveria estar na aula (puta azar, um cara que trabalhava com meu pai ter me visto cabulando aula).

Pra falar pro meu tio que eu estava andando a cavalo, fiquei na casa de fulana e perdi a hora, afinal se ele descobrisse que eu estava com a peonada no meio de algum pasto perdido, ele iria me proibir terminantemente de sair a cavalo de novo pelos próximos 30 anos!!

Pra falar pra minha mãe vir me buscar na quermesse do Baguaçu, tão bêbada que nem sei como cheguei em casa, falei que quis ser educada e não recusei as bebidas que me ofereceram, só uns golinhos, mas que como eu misturei, acabei vomitando no carro inteiro (7 cubas libres, 12 cervejas e um copo de whisky). Quando o pessoal do Baguaçu soube da mentira, ficou meses tirando sarro de mim, nas festas: "você não vai bancar a educada hoje, né?" ou "por favor, não seja educada hoje, tá?".

Mais tarde, tive que inventar uma ótima desculpa do porque eu havia torcido o dedo do namorado da minha melhor amiga, quando ela estava de costas pra mim, e ele de frente (afinal, vai passar o dedo no bico do seio da namorada dele, que estava na frente dele, não no meu, aquele fdp).

Mas é engraçado, de uma graça funesta, quando você mente pra proteger alguém e leva a fama. Como quando uma amiga minha deu o nome dela no laboratório, pra fazer exame de gravidez por mim, que morria de vergonha e medo, ela só disse, "pode dar meu nome lá, sem problema" (e deu negativo). Todo mundo foi perguntar à ela da gravidez... Que mico ela pagou por minha causa...
E até sair esse resultado, eu com medo de estar grávida e sendo completamente sem juízo, tomei um tal de "chá de pinga com canela" pra descer a menstruação (não recomendo, é horrível e não adianta nada). No final, era só pela maldita oscilação de peso que minha lua estava desregulada.
Contei a história pras minhas melhores amigas na época e o que ouvi de uma delas eu lembro até hoje: "meu namorado disse que você não é pessoa pra andar comigo e prefere que a gente não converse mais". E lá se foi ela... Hoje está casada, acho que tem uma filha. Nunca mais vi, nunca mais procurei.

Quem lê isso pode até pensar que ela não era uma amiga verdadeira, mas e os anos que passamos saindo juntas, uma na casa da outra, uma consolando a outra por amores perdidos, confusões feitas e desfeitas, meu Deus, era tão divertido.
Eu dirigindo, deitava o banco do monza e ela do lado, segurava a direção e trocava as marchas sem que ninguém visse... Ia me dando as coordenadas: "breca, tem lombada, pisa na embreagem, vou trocar de marcha", mas parecia mesmo que não tinha ninguém no volante, o povo levantava da cadeira pra olhar, era hilário (meio idiota, eu sei, mas hilário assim mesmo).

Prefiro pensar que entre minha amizade e o namorado (leia-se: não ser só, ela morria de medo de nunca se casar, era o sonho da vida dela, casar de branco na igreja), ela ficou com o sonho de uma vida inteira.
Mas na época doeu. Eu era mais sangue quente, idealista, mais orgulhosa. Fiquei emputecida. E a amizade, ficava onde??
Acho que hoje eu entendo. Não sei se faria igual, mas entendo.

Cabe aqui mencionar as vezes em que eu disse à minha mãe que estava dirigindo e bati o carro ou a caminhonete e, com isso, perder a confiança dela durante meses, até hoje ter de ouvir "vê se não bate o carro" quando saio de casa, ou falar que esqueci de trancar a porta e roubaram o rádio. Quando na verdade, tudo isso não fui eu quem fez.
É, eu menti pra minha mãe pra esconder cagada minha (emprestar carro pra quem não sabia dirigir) e não piorar a situação, minha e das pessoas envolvidas.
Se eu fiquei brava com as pessoas que bateram? Não. Ia adiantar? Ia desfazer o estrago?
Como disse o Ivo, uma vez, passa, duas é estranho, mas três vezes, Maetê, É BURRICE!!!

Ou deixar pensarem que EU fiz algo, só pra situação de alguém não ficar pior, mas aí é omissão de fatos, não mentira. Entre mentir e omitir, eu prefiro a segunda hipótese.

Omitir fatos da vida pessoal não faz um mentiroso, NO MEU CONCEITO de ser humano. As pessoas tem o direito de esconder fatos de suas vidas, que elas achem que não devem contar à ninguém, ainda mais, como diria a Maraysa, se a informação não acrescenta em nada na vida dos outros.

Como eu disse a mais de 1 ano atrás, a uma amiga que eu não via desde que fui embora de SP, existem assuntos que eu me abstenho de comentar, alardear, porque não gosto de falar deles, porque são recentes, porque me machucam, ou porque, simplesmente, são irrelevantes no contexto histórico da minha vida.

Enfim, o motivo inicial desse post não era para falar sobre tudo isso, acabei me empolgando, mas é que eu tinha que começar por algum lugar.

Comecei falando de algumas qualidades, agora falarei de alguns defeitos que tenho: sinceridade é o pior. Claro que depende do conceito de sinceridade que cada um tem em si.

Como eu posso chegar pro namorado de uma amiga e dizer que ele foi sumariamente chifrado? Se eu sou amiga dele, não posso traí-lo. Se eu for amiga dela, idem. E caso eu me torne amiga dos 2, é pior ainda, porque aí, o casal briga e quem paga o pato foi quem contou o milagre. E eu sei de muito milagre pra sair por aí sendo sincera demais.

Portanto, sinceridade também tem suas prioridades. Quando alguma coisa que um amigo meu faz me incomoda, eu peso na balança, se devo ou não levar em pauta o assunto.
Muitas eu relevo. Outras não. Existem aquelas que a gente não esquece, mas dá uma segunda chance.

Outro defeito que tenho é não ser falsa. Novamente, vamos cair no comum de cada ser humano, sobre o que é falsidade. Bom... Se eu sou sua amiga eu não falo mal de você. Se tenho por você uma determinada consideração, não, não faço isso. Levando em conta que todos tem os seus defeitos e qualidades, se algo em você me incomoda, eu falo. E se for o caso, eu corto. Mas a partir do momento que eu aceito em você aquela sua qualidade ou aquele defeito, tenho consciência dele e não pretendo perder sua amizade por isso.

Se eu saio com você é porque eu gosto da sua companhia. Se eu converso com você assuntos importantes sobre mim, é porque eu confio em você. E pode apostar que, à partir desse instante, comprarei suas brigas e lembrarei de te chamar em cada programa que eu fizer, desde que eu ache que você vai gostar.
É assim que eu sou.
Essa é a minha visão de mundo, esse é meu porto seguro, é a maneira como eu vejo um relacionamento amigo.
Tem que existir troca, eu cedo uma parte, você cede outra.

O que me tira do sério? Falta de consideração. Principalmente comigo, lógico.
Se nós combinamos ir numa festa, eu te ligo confirmando, você diz com todas as letras que vai, e não aparece, pode apostar que eu acho isso uma extrema falta de consideração.
Não custa dizer que não vai. Se você for mesmo meu amigo, vai dizer também porque não vai. Eu tentarei entender.
De repente, naquele dia, a conjunção de Marte com Plutão não estava boa e você não podia sair de casa. Ou, talvez, você esteja sem dinheiro. Ou ainda, você não quer dar de cara com algum desafeto que também vai.
Eu entendo isso, juro.

O que eu não entendo, é falarem mal de mim por e-mail, usarem seu nome, eu descobrir, ligar 2 vezes pedindo explicações (pedindo, veja bem), perguntando se eu fiz algo que te desagradou, receber respostas negativas em ambas as vezes e perceber que, daquele dia em diante, você simplesmente sumiu e deixou de me chamar pra sair.
Faz festas com seus amigos - que eu conheço mas que, estranhamente, sumiram também - vão ao cinema, não avisam, não convidam, não chamam...
Aí, quando um de vocês me vê na rua e eu viro a cara, se ofendem? Quando vem em casa "desejar feliz páscoa" e eu não dou atenção, acham ruim???

Eu não sou a dona da razão ou da verdade absoluta, mas eu sou dona da MINHA verdade, eu tenho o direito de excluir quem eu quiser da minha vida, à partir do momento que eu percebo que a amizade e a admiração que eu tinha por determinada pessoa não é apreciada.

Não precisa ser correspondida. Eu não quero ser admirada, não quero ser colocada numa porra dum pedestal, eu sou humana, sujeita à falhas, só que se ninguém me falar quais são essas falhas, eu vou continuar achando que elas são bem aceitas, quando na verdade, não são.

O que para mim, pode ser uma falha de caráter, para outra pessoa pode não ser. E vice versa.

Eu nunca me intitulei santa, pois só eu sei as coisas que eu já fiz ou deixei de fazer. Dentre as que eu NUNCA FIZ, estão sair com homens casados (eu disse casados) e incentivar traição. Nem quando eu estava caindo de bêbada eu fiz isso. Nunca. Porque eu conheço os MEUS VALORES.
É, eu posso até não prestar, pra muitos, mas eu tenho os meus valores e, eu já disse aqui nesse blog, certos ou errados, são meus e é por eles que eu guio minha vida.

Meus tempos de Alice infelizmente se foram muito cedo. Eu tive que acordar e perceber que eu estava no mundo real, e não no país das maravilhas. Tive que aprender que as pessoas mentem, inventam histórias, contam vantagem e falam coisas que não sabem, sobre quem quiserem, e não há muita coisa que se possa fazer quanto a isso. No começo bem que eu tentei, mas não dava pra bater em todo mundo que falava mal de mim, por coisas que eu não fiz. Perdi a convivência de pessoas que eram importantíssimas na minha vida, numa época em que eu dava mais valor à elas do que elas à mim.
Elas fizeram falta, porque eram pessoas que eu conhecia desde criança. O que veio delas doeu, porque eu não esperava. Porque eu era, literalmente, delas, para que fizessem de mim o que quisessem. Eu me doei inteiramente a amizades infantis, de pessoas cujos valores eram diferentes dos meus.
Imatura demais, não soube aceitar isso nelas e as perdi.
Como eu disse, foram perdas dolorosas.
E a dor caleja a alma. Hoje não dói mais. Surpreende, mas já era esperado...

Ou você aceita, aprende, desenvolve caninos e se defende como pode, ou os lobos te devoram. É a tal "lei do mais forte" que eu chamo de "sociedade lixo".

"Quer dizer então que a vida se resume a viver sem poder confiar em ninguém?" foi a pergunta que eu fiz à minha psicóloga outro dia. E ela respondeu que sim, pois cada segredo que uma pessoa sabe de você, acaba invariavelmente usando contra você um dia.
Repassei algumas coisas que me aconteceram e percebi que ela tinha razão. Quanto já não usaram contra mim, das coisas que sabem a meu respeito?

Será que, um dia, eu vou aprender a NÃO CONFIAR nas pessoas?

É engraçado... Porque, se as pessoas tem reclamações sobre coisas que eu faço, eu também tenho sobre o que elas fazem...
Mas acho que, no fundo, ninguém quer ouvir, porque ninguém pergunta. E, se um fala de graça, ainda passa por mal educado...

É isso aí...
Faltou falar sobre falsa moral, mas isso eu deixo para outro dia...

Estou ouvindo Gispsy Kings - Djobi, Djoba.

Um comentário:

Ruth Miyuki Horie disse...

Ah Maetê. Fantástica vc. Concordo com o seu ponto de vista. Eu já não sei mentir. Até tento. Mas todo mundo fica sabendo que é mentira. Sou sincera demais às vezes. Só que eu, diferente de vc, não consigo perceber quando não devo falar. Quando foi, já era. Mas, tenho alguns amigos mais que verdadeiros e até virtuais e, sei que, nunca usarão o que eu falo pra elas, ou vice-e-versa, em relação a mim, pra me prejudicarem ou eu a eles. Dá pra vc confiar sim. Ainda existem pessoas confiáveis, acredite. Eu estou aqui. E sou uma delas. Se vc precisar dos meus ombros, pode vir chorar. Nada do que vc disser, direi a mais ninguém. Eu sei que é difícil, Maetê, eu também já me decepcionei. Mas, tem uma coisa: o olhar, o gesto, as palavras. Analiso bem por aí. Sei quando estou diante de alguém confiável. Aprendi muito a analisar por esse método. É infalível. E também tem o feeling, o sexto sentido. Mas, entendo isso tudo o que disse aqui. Estou aguardando vc falar da falsa moral ... Gosto quando vc escreve assim. Difícil alguém não te conhecer, não te admirar só pelo que está escrito aqui ... e te reverencio Maetê. Parabéns. Vc é gente fina, pode acreditar! Bjs.

Anos de Brasil em poucas linhas

 Eu queria poder narrar aqui, para deixar registrado mesmo, pois sei que futuramente os indivíduos podres que estão no poder vão reescrever ...