domingo, 1 de janeiro de 2006

Enquanto 2006 entra, eu me pego pensando, muito - como sempre - em coisas e pessoas que não estão ao meu lado. Minha cabeça nunca fica perto do corpo, aliás dá para contar nos dedos os momentos em que cabeça e corpo são unos em mim.

A beleza da festa no barco, a comida farta, a bebida, tudo isso me faz pensar, não pela primeira vez, porque eu tenho o previlégio de estar entre um grupo de pessoas que pode usufruir desse tipo de luxo, enquanto outras mal tem o que comer. Ou porque alguns estão ali para servir, enquanto outros para serem servidos. Isso me constrange. Ninguém deveria estar ali servindo ninguém, num dia de Natal ou ano novo, todos deveriam estar comemorando.
Ora, é trabalho digno. Sim, mas para trabalhar, existem outros 363 dias do ano, enquanto Natal e Ano Novo são dias especiais.

Quando eu era pequena, achava que todos deveriam estar em casa com a família nessas datas tão lindas - Natal e Ano Novo. Ficava com pena dos que trabalhavam nesse dia, como motoristas de ônibus e policiais. Será que eles não gostariam de estar com suas famílias?
Imaginava aquele quadro triste, da família supostamente simples, arrumadinha na sala, esperando o retorno daquele pai para comemorar o Natal, e ele ali, tendo de suportar pessoas como eu, que não tinham carro e precisavam andar de ônibus naquela data.

Outro grande problema era na hora de comer. Quantos não tinham aquela comida, quantos não tinham nada, sequer onde morar, e eu, uma criança, com tanto... Porque eu merecia e tantos outros iguais a mim, não?

Mas essas não são apenas lembranças ocasionais. São lembranças constantes na minha vida, sempre que eu como, bebo ou vejo um desmoronamento ou alagamento no noticiário. Eu tenho tanto! Comida (em excesso, às vezes), moradia, cobertor...
Com o tempo aprendi alguns conceitos que me ajudaram a superar esses pensamentos, mas em certas épocas como o Natal, eles ainda me vem.

Estou ouvindo Gipsy Kings - Habla me.

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