terça-feira, 23 de agosto de 2005

Hoje, depois de uma conversa pelo MSN, lembrei da minha prima Triana.

Eu evito pensar muito nela porque dói. Quase não converso mais com meus tios, pais dela, porque também dói. Não sei o que dizer a eles. Me acabo de chorar, mesmo 4 anos depois, quando lembro dela.

A melhor maneira de definir a Tri era com uma palavra: linda, mas não dessa beleza que as pessoas fazem questão em outros seres humanos - a exterior. Ela era linda, sim, por dentro.

E você, que só sabe ver o exterior das pessoas, se leu até aqui, pode parar, porque você não tem cérebro suficiente para entender o resto do relato.

Continuando, a Tri era aquele tipo de pessoa que, quando alguém a sacaneava, ela brigava, ficava sem conversar, essas coisas que todos nós fazemos quando ainda temos nossa alma pequena. Mas passado um tempo, ela virava e dizia:

- Estou com saudade de fulano.
- Como, saudade dele?
- É, faz tempo que eu não falo com ele, acho que eu vou ligar lá.
- Mas... mas ele pisou na bola com você, fez isso, isso, aquilo...
- É... eu sei, mas mesmo assim eu tô com saudade dele...
- Mas... mas... ele é um canalha, te falou isso, aquilo...
- Ahh, isso é passado, vou ligar pra ele...

E ligava, conversava, deixava a pessoa totalmente sem reação...
A Tri era humana e como humana, tinha seus defeitos. Um deles era gostar de comer - ela pesava 140 kg em média - e de bons amigos. Alta, loira, olhos de um azul cristalino, bem humorada (alguém aqui já viu gordo mal humorado?), cantava como um anjo, fez parte de uma banda até, onde conheceu um de seus namorados.

Ahh, sim, ela tinha namorados, embora eu deva confessar que sua preferência eram as meninas. Talvez eu não devesse relatar sua vida aqui, mas se, disso, alguém aprender algo de bom, creio que ela não se importaria... De qualquer forma, não vou citar nomes relevantes.

Um dia, minha outra prima, Poliane, me disse, aos prantos, ter descoberto que a Triana era lésbica.
- E daí?
- Você não ficou chocada?
- Primeiro, que eu já desconfiava. Segundo, que, pra mim, amor é amor, e se ela encontrou amor em outra mulher, melhor pra ela...

Afinal, o sentimento principal que rege o ser humano é o amor. Podem bater o pé, podem falar o que quiserem, sem amor, um dia o ser humano desiste de tentar. Por isso muitos criam animais, cercam-se de cães, gatos, alguns vão atrás de serviço voluntário com crianças carentes, para dar e receber amor.
Não importa que tipo de amor - amor é amor.
Não importa se vem de homem, mulher, criança, animal, se ele for aceito e retribuído, é amor.
Se a pessoa se sente amada, vive.

E a Tri amava o ser humano em geral, mas preferia mulheres. Afinal, o amor entre pessoas do mesmo sexo não costuma ser tão exigente, não vê cara, vê coração.
Costumo dizer que meu azar é tanto, que nem pra isso eu prestei - ser sapatão.

Bem, voltando... Um dia, depois de sua morte, conversando com um dos inúmeros amigos que gravitavam em torno dela, ele confessou que ela foi o grande amor da vida dele. Ficamos abismadas - como, quando, onde, mas, principalmente, porque nunca rolou nada entre ambos?

- Eu tinha vergonha, afinal ela é enorme. Não tinha coragem de assumir isso pra minha família, nem pras pessoas... Nem pra mim...

Pois é, amigo... Perdeu a chance de viver uma história de amor, fosse boa ou ruim...

Minha prima Triana morreu tentando emagrecer, creio que mais por saúde que estética. Ela tinha um coágulo que poderia estourar à qualquer momento e resolveu se fazer notar justamente quando ela tomou essa decisão.

Deixou um vazio que ninguém jamais conseguirá preencher.

Estou ouvindo America - The Last Unicorn.

2 comentários:

Anônimo disse...

Sem comentarios!!
Realmente existem pessoas que nao sao felizes, por "vergonha". No fundo eu acho que uma pessoa assim, nao tem vergonha da outra pessoa, por ela ser gorda demais, magra demais, alta demais... a maior vergonha dessa pessoa esta dentro dela mesma, por saber que nao merece tudo aquilo que a outra eh. Por saber que nunca conseguira ser 1/3 do que a outra eh.

Anônimo disse...

Concordo em gênero, número e grau...

Anos de Brasil em poucas linhas

 Eu queria poder narrar aqui, para deixar registrado mesmo, pois sei que futuramente os indivíduos podres que estão no poder vão reescrever ...