segunda-feira, 13 de junho de 2005

Quando eu vim de SP pra cá, em 1992, pleno carnaval, sem mudança, só com mãe, cachorro e gata, eu era de um jeito. Tinha então 18 anos.

Jeito esse, que chocava muitos, espantava outros e que firmou minha fama de "porra louca" na cidade. Mas eu era sobrinha de político importante e conhecidíssimo, então a mim, tudo era permitido.
O tempo foi passando e eu fui percebendo que o interior não era o que eu pensava, pelo contrário, eu "tinha fama sem deitar na cama". Ou seja, por minha maneira tresloucada de ser, era considerada puta. Falavam. Comentavam. Inventavam histórias.
Ledo engano.

Na época fiquei decepcionada, afinal eu era expansiva e amiga de todos, nem imaginava o que falavam de mim pelas costas, mas aprendi a superar e resolvi dar motivos para os falatórios. Um ano depois, fiz algo de que me arrependo hoje, porém se tivesse esperado, morreria de velha: perdi a virgindade. Com 19 anos.
E não foi aquele sonho, tampouco aquele ato sublime que eu lia nos romances. Foi doloroso e humilhante. Insano. Patético. Irracional. Fiquei decepcionada novamente e me culpei, achando que eu era a errada, afinal onde estavam as estrelas, onde estava o prazer maravilhoso que as amigas declamavam nas conversas de domingo?
Culpei o homem que eu havia escolhido - era mais fácil colocar a culpa nele do que aceitar minha parcela de culpa também.

Tentei de novo, e de novo... Nada. Um fiasco.
Mas pelo menos não doía mais.
Onde? Cadê?
Nessas idas e vindas, fiquei, quando somados, 5 anos sem sair com homem nenhum.

O tempo foi passando e eu fui me modificando, já não era tão louca, louca, mas ainda era livre o bastante para sair da linha, sem que achassem estranho ("é louca mesmo, esperava o que?"). Até de drogada me chamaram. Louca, louca.
Eu falava o que tinha de ser dito, doesse onde doesse.

Descontava nos outros o que eu achava que a vida fizera comigo.
E fui mudando, mudando. Já não era a mesma que havia chegado de SP.
Não tirava mais racha de carro (me disseram que era perigoso);
Não dançava na chuva, no meio da tempestade (me disseram que só loucos faziam isso);
Não fazia mais longas caminhadas com o cachorro madrugada afora (me disseram que não era decente);
Não fazia barulho de sirene na direção (me disseram que sentiriam vergonha de andar comigo se eu continuasse com esse hábito).

Comecei a me importar com o que os outros falavam, sempre mudando para parecer o que queriam que eu fosse. Por dentro, um vulcão enorme.

Sempre mudando, mudando. Porque o ser humano muda, faz parte da evolução.
Já não falava mais o que queria dizer, engolia - podia magoar as pessoas.

Um dia - não sei precisar a data - percebi que não era mais uma questão de eu mudar, mas de aceitar e ser aceita. Percebi também que a maioria das pessoas queria ser melhor que todos os outros e, para conseguirem isso, mentiam. Eu, crédula, engolia tudo como absoluta verdade.

Não há necessidade de mudança, mas de aceitação. Se me aceitam como eu sou, eu os aceito como eles são.
E novamente mudei, pois esse pensamento leva a outras mudanças. Afinal, aceitar alguém e querer modificá-lo é um dos maiores defeitos dos seres humanos. Tive de entender que, quando se aceita alguém, não se pode pedir que esse alguém mude. Ele tem de mudar porque quer. Não posso pedir que mude, mas posso informar onde me incomoda.

E novamente me decepcionei. Vi muito, onde pouco existia. Vi caráter, onde só existiam idéias compradas. Vi gostar, onde só existia comodismo. Aceitei sem questionar e não fui aceita.
"Cadê justiça?" - me perguntei dia após dia, durante muito tempo.
Entendi, então, que não basta apenas aceitar e querer ser aceita - a troca tem de vir naturalmente, do coração, sem coação ou falsidade.
Notei que não era obrigada a suportar determinados comportamentos de pessoas que eu aceitava como eram, mas que abusavam dessa aceitação. E aprendi a descartá-las da minha vida.
Mudei novamente. Continuo aceitando e descartando conforme minhas necessidades e percepções. Faz-me bem, saber que posso tirar da minha vida aqueles cujos comportamentos não se adequam ao meu ser, que não preciso engolir algo que eu não gosto.
Sempre mudando, não por alguém, apenas por mim.
Não porque querem, porque quero.
Não porque pedem, porque percebo que devo.
Com algumas pessoas, não todas. Umas levam o que eu tenho de melhor, outras, de pior.

Respeitar as pessoas é fundamental.
Reconhecer que errou, ídem.
Perdoar, aceitar, falar o que se deve, na hora certa.
Aceitar críticas sem perder a amizade.
Perceber quem aqueles que amamos não são perfeitos, a não ser para nós.
Não defender quem é adulto o suficiente para uma autodefesa.
Não justificar erros, imputando-os a outrem.
Ninguém é coitado nesse mundo, todos tem seu quinhão.


É gratificante saber, hoje, que estou tão longe da "perfeição" como quando nasci. Que, na verdade, quanto mais aprendo, embora sofra, mais quero aprender. Tomara que isso nunca acabe.

Estou ouvindo Global Deejas - The sound of San Francisco.

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