terça-feira, 14 de dezembro de 2004

AMALA E KAMALA

Na Índia, onde os casos de meninos-lobo foram relativamente numerosos, descobriram-se em 1920, duas crianças, Amala e Kamala, vivendo no meio de uma família de lobos. A primeira tinha um ano e meio e veio a morrer um ano mais tarde. Kamala, de oito anos de idade, viveu até 1929. Não tinham nada de humano e seu comportamento era exatamente semelhante àquele de seus irmãos lobos.
Elas caminhavam de quatro, apoiando-se sobre os joelhos e cotovelos para os pequenos trajetos e sobre as mãos e os pés para os trajetos longos e rápidos.Eram incapazes de permanecer em pé. Só se alimentavam de carne crua ou podre. Comiam e bebiam como os animais, lançando a cabeça para a frente e lambendo os líquidos. Na instituição onde foram recolhidas, passavam o dia acabrunhadas e prostradas numa sombra. Eram ativa e ruidosas durante a noite, procurando fugir e uivando como lobos. Nunca choravam ou riam.
Kamala viveu oito anos na instituição que a acolheu, humanizando-se lentamente. Necessitou de seis anos para aprender a andar e, pouco antes de morrer, tinha um vocabulário de apenas cinqüenta palavras. Atitudes afetivas foram aparecendo aos poucos. Chorou pela primeira vez por ocasião da morte de Amala e se apegou lentamente às pessoas que cuidaram dela bem como às outra com as quais conviveu. Sua inteligência permitiu-lhe comunicar-se por gestos, inicialmente, e depois por palavras de um vocabulário rudimentar, aprendendo a executar ordens simples”.
(LEYMOND, B. Le development social de l’enfant et del’adolescent. Bruxelles: Dessart, 1965. p 12-14.)

Lendo "O livro da Selva", de Rudyard Kipling, lembrei-me de um artigo que li a muitos anos e resolvi procurá-lo novamente, o caso de Amala e Kamala.
Me surpreendeu, na época, o fato de na Índia os casos de crianças criadas por lobos terem sido numerosos.
Foi provavelmente de onde Kipling tirou suas idéias para as histórias de Mowgli.
Diferente das meninas, Mowgli anda ereto, aprende a falar um pouco da língua dos homens, usa uma faca e, por fim, procura no convívio humano uma esposa.Me chamou a atenção, mais do que tudo, o fato de uma alcatéia criar seres de uma espécie diferente da deles (e não apenas uma vez, já que casos assim são numerosos, certo?) e nós, humanos, que temos a chamada "racionalidade", matarmos a torto e à direito, não só outras espécies, como a nossa.

Publicado também no Solta o Som!

Estou ouvindo Scatman John - Scatman.

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