Raras vezes quando eu me preparo pra dormir, estou para desligar o PC, algum espírito perverso encosta em mim e sopra idéias macabras na minha cabeça.
Eu não devia dar bola, devia mesmo era desligar tudo e ir dormir o sono dos justos sem maiores tristezas, mas não dá. Muita coisa pesa nessa hora e eu acabo cedendo à tentação arrumando mil justificativas plausíveis:
Sou humana;
Sou imperfeita;
Não faço por mal;
A saudade está demais;
É meu e eu abro quando eu quiser;
Foi pra isso que eu guardei;
Qual o problema?
Faz tempo que eu não faço isso;
Eu PRECISO ver de novo;
Só um pouquinho!!
Dentre outras...
De todas as justificativas, duas tem resposta:
"O problema é que você sofre depois e sim, faz tempo justamente por isso."
Abro o navegador e digito o endereço. Olha a pasta, clico e entro.
Nada ali mudou, é um mundo silencioso e parado, imortalizado, apenas esperando que eu entre. Ninguém vai ali, porque ninguém sabe que existe, só eu.
Fotos.
Várias, de diferentes épocas.
De vez em quando eu volto nesse esconderijo e as vejo guardadas. Tremo antes de abrir cada uma, pois sei muito bem o que me espera, recordações de um tempo que não volta. Mesmo assim, mesmo sabendo tudo isso eu abro uma a uma e sofro silenciosa, triste e soluçante. Da última vez passei a noite com dor de cabeça, isso faz mais de 6 meses...
Incrível como fotos conseguem evocar mais lembranças do que seria esperado: cheiro, gosto, toque, hábitos do dia a dia.
Desespero.
Nunca mais.
Adeus.
Puta merda, eu sou uma idiota.
Porque eu faço isso comigo?
Dessa vez notei uma melhora, chorei menos e mesmo assim o pranto secou mais rápido.
E quando eu fecho o navegador, mais triste do que antes, a voz do espírito perverso ecoa novamente:
- Matou a saudade?
- Não devia ter dado ouvidos a você.
- Você fez porque quis, afinal sabia muito bem o que a esperava ali e qual seria sua reação.
Sim, realmente, fiz porque quis. Meu medo é saber que esse demônio na verdade sou eu...
quarta-feira, 28 de abril de 2004
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