quarta-feira, 31 de agosto de 2022

Banguela foi embora. 

Meu whippet teve um câncer agressivo que me fez relutar em "fazer o certo" até o último instante, e ainda não sei se foi realmente a hora certa.
Eu passei dias brigando comigo mesma, mas no final... no final eu tive que acompanhar meu cachorro pra última vez que ele ia compartilhar seu amor comigo.

Pois era isso que ele era, amor. Amor por todos nós, pelo sol, pela grama, pelo carinho, pelos paninhos, pelo sofá. 
Amor pelos outros cães, ainda que de vez em quando tomasse umas mordidas por ser abusado.

Ele chegou em casa quando o Moxitinho tinha 2 anos e, do momento em que se conheceram, até o dia da morte do Moxito, foram amigos, no sentido mais canino que eu já vi.

Ele era tão devotado ao amigo que eu costumava chamá-lo de "secretário".
Moxitinho inventava suas graças e Banguela o seguia. 
Mesmo quando ele via que não tinha mais sentido seguir seu amigo, ainda assim ele seguia.

Como quando Moxito passava horas latindo para o "gato imaginário" dele, lá estava o Banguela esperando ele acabar.

Quando Moxitinho passava mal, Banguela deitava dentro da caixa dele e fazia companhia. Quando ele morreu, Banguela ficou semanas deprimido; não queria mais brincar com as cadelas, passava horas deitado em cima do túmulo do amigo dobermann.

Cuidou com carinho dos filhotes do Moxitinho, como uma babá preocupada. 

Queria poder compartilhar todos esses momentos, mas foram muitos. 
Quando Moxitinho morreu, eu e ele ficamos tão tristes que unimos nossas dores e ele veio me fazer companhia dentro de casa, mas como bom whippet, ele pulava o portãozinho e ia passear na rua. O medo de que fosse roubado me fez mandá-lo de volta pro quintal - isso e uns cocôs perdidos no quarto de brinquedos.

Banguela foi um dos cães mais meigos e doces que eu tive o privilégio de conviver. 
Acho que essa é a maior característica dos whippets, e é por isso que eu gosto tanto dessa raça.

Eu tive que tomar algumas decisões muito difíceis na minha vida, a maioria delas relacionada a cães e leishmaniose. Dessa vez não foi leishmaniose, foi câncer. 

Ver ele dormir e sentir seu coraçãozinho acelerar loucamente antes de, finalmente, parar, é uma das sensações que eu nunca vou esquecer na minha vida.

Que Deus me perdoe por todos os cães que eu tive que sacrificar; por todos os cães que eu doei, seja por qual motivo for; por todos os cães que eu, ao invés de ter dado um lar de verdade, que é o que todo cachorro merece, deixei no canil, dando pouca atenção, soltando só uma ou 2 vezes por dia. 
Cães merecem mais que isso. Merecem ter seus lares, seus donos, merecem dormir ao sol, cavar buraco, merecem brincar de bolinha e beber água de mangueira. 

Chegando agora depois de tantos anos, acabo de perceber que um dos meus maiores arrependimentos foi criar cachorros. 
Não pelos gastos ou tempo perdido a toa, mas pelo pouco que eu fiz por eles. Poderia ter feito a diferença pra muitos cães e não fiz. 
Vendi filhotes adoráveis para pessoas que não os mereciam. Doei cachorros maravilhosos simplesmente por não se encaixarem nos meus planos de criação. 

Talvez por isso eu tenha sido punida e tenha perdido meus cães preferidos, todos cedo, nos meus braços. 

Se isso foi um ciclo, que, por favor, se encerre. Eu não aguento mais ter o coração dilacerado por cada cachorro que vai embora. 

Que Deus me perdoe por tudo isso. 







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