sexta-feira, 23 de abril de 2004

Hoje eu vi uma foto que me fez relembrar minha infância.
Um colega mostrou uma foto da parede do quarto dele, totalmente coberta com posters, fotos, capas de discos, essas coisas.

Meu quarto em SP, depois que eu aprendi a dormir sozinha, era cheio de colagens, adesivos nos vidros, posters, quadrinhos, desenhos, penduricalhos, casinhas com bichinhos de durepox, etc...
Bom, isso nas paredes. As duas estantes tinham tantos livros e revistas que as tábuas chegavam a vergar com o peso. E muito papel espalhado, igualzinho às mesas aqui de casa! :D

Aí vinha o chão, forrado com carpete. Quando eu brincava com bichinhos de plástico, aqueles de fazendinha e zoológico Gulliver, existem até hoje, o chão ficava forrado de bichos.
Minha coleção tinha 3 sacolas cheias, aquelas de papelão enormes sabem? Com alça de plástico, fundo de cartolina? Não existem mais hoje, nunca mais vi. Bom, pois eram 3 sacolas daquelas lotadas de bichinhos.
E cada bicho tinha seu par e seu filhote. Na época eu não entendia muito de animais, formava casais. Os únicos que viviam em manadas eram os porcos, as cabras, as ovelhas e as vacas, era um macho para várias fêmeas. Cada cavalo tinha sua égua e seu potro. E todos viviam felizes. Minha fazendinha não tinha seres humanos, quem mandava ali eram cangurus, que por sua aerodinâmica corporal (de onde eu tirei isso??) podiam montar nos cavalos. Nunca gostei de gente mesmo...
Os cães também viviam em casais, acompanhavam os cangurus, tomavam conta da fazenda.

Aí vinha a selva, que virou zoológico quando eu ganhei mais grades de Playmobil.
Leões, hipopótamos, rinocerontes, focas, jacarés, era completo, eu tinha até um espelhinho que usava como lago!!
Deviam ser mais de 400 bichos. Nunca montava todos, não cabiam no chão do quarto nem embaixo da escada da minha vó, que eram os únicos locais onde eu podia montar meu ecossistema sem atrapalhar a passagem das pessoas durante dias.
Eu demorava horas pra armar todos, meu Deus, eram centenas de animais, cada um num lugar, quando eu acabava de montar tudo já era hora de dormir, aí era sacanagem esse monta-desmonta. Acabavam deixando meus bichos passarem a noite montadinhos pra que eu pudesse brincar no dia seguinte.
A porta do meu quarto chegava a ficar trancada à chave durante quase uma semana, para a empregada não derrubar nada, imaginem como era o negócio!!
Uma brincadeira que um tio meu fazia comigo era interessante, ele me mandava fechar os olhos e tirava um animal da formação e eu tinha que descobrir qual era. Nunca falhei. Conhecia bicho por bicho, sempre sabia qual estava faltando. Era óbvio. Se todos tinham par e filhotes, ficava fácil. Adultos se espantam com cada coisa...

Quando eu me enchia de brincar com os bichos de plástico, ia brincar com os de papel.
Eu recortava tudo quanto era bicho de velhos livros escolares que não fossem mais ser usados e formei outro ecossistema de papel. Era tudo guardado dentro de uma pasta, com divisórias de sulfite... Mesmo esquema, com a vantagem que os bichos de papel eram "batizados", dava pra escrever o nome atrás.
Quando eu montava esses, era fácil recolher e fácil levar pra vários lugares, era só uma pasta, por isso eu andava sempre com ela. A única desvantagem é que eu não podia brincar em locais abertos ou com corrente de ar. Aliás acho que eu tenho essa pasta até hoje...
Bom, eu teria todos eles até hoje se a minha mãe não tivesse dado minhas sacolas depois que nós nos mudamos pra cá. Alegou que eu já tinha 18 anos e não tinha mais idade pra guardar brinquedos.
Deu para crianças que precisavam...
Chorei uma semana a perda dos meus bichos e até consegui salvar alguns do expurgo. Uns Playmobils que eram os preferidos. Outro dia achei alguns, estão guardados. Mas os de papel ela não colocou a mão!!
Tinha um koala que veio num chaveirinho, consegui tirar a argola do chaveiro, ele tinha um formato arredondado que cabia no dedo, era um primor! Esse deve estar aqui em casa.

Mudar para Birigui encerrou uma fase da minha vida. Deixei amigos queridos para trás, família, lembranças... Não consegui trazer quase nada. Aliás, me explico: trazer eu trouxe, até os adesivos dos vidros eu arranquei e coloquei num pote com água, ia tentar colar nos vidros daqui.
Mas não consegui encaixar nada da minha vida antiga na nova. As revistas se perderam nas mudanças, esse povo troglodita daqui não dá importância à livros, destruiram meus livros, minha Barsa, minha coleção de revistas de cavalos e cães, meus posteres... Tudo se perdeu de uma casa à outra.
Se eu ainda tivesse scanner, mostrava as fotos de algumas coisas minhas desse tempo, até isso eu tinha!! Foto do meu quarto desarrumado!!

Dizem que lar é onde o coração está. Isso é uma verdade, meu coração mora aqui, sempre morou. Sempre me senti bem... hum... não, aí já é mentira, nem sempre eu me senti bem aqui, mas isso eu comento outro dia...
Enfim, eu gosto de Birigui. Acho que a cidade cresceu demais em 12 anos, está bem diferente, mas o progresso é inevitável.
Tudo evolui, só o ser humano que não. Livre arbítrio. Onde Deus estava com a cabeça quando nos deu direito de escolha?

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Anos de Brasil em poucas linhas

 Eu queria poder narrar aqui, para deixar registrado mesmo, pois sei que futuramente os indivíduos podres que estão no poder vão reescrever ...