sábado, 9 de janeiro de 2016

Uma das piores coisas da morte é lidar com o que fica de quem se foi: roupas, bens pessoais, documentos, livros, cd's, etc.

Até a pasta de músicas no PC eu tentei, mas não consigo mexer... Gonzaguinha, Noel Rosa, Chico Buarque, Frank Sinatra, Beatles, Nara leão, Gal Costa, Ray Connif, Simone, Nico Fidenco, Pepino di Capri, Tom Jobim, Os Cariocas, Elis Regina, Connie Francis...

O problema não são as músicas em si, são as lembranças... Ela vinha da cozinha, de repente, "Tê, procura pra mim aí Noel Rosa, vê o que você acha dele", e eu ia garimpar, porque AI se não achasse, "mas dizem que existe de tudo na internet, como você não encontra Nico Fidenco?"

A última que eu achei foi a discografia completa do Gonzaguinha, nem cheguei a abrir do .rar, não deu tempo. Estão aqui, fechadas.

Quando ela ficou de cama eu ia no hospital com algumas músicas que ela gostava no celular, colocava no ouvido dela, mesmo em coma, e cantava junto, ela sempre gostou de me ouvir cantar, mesmo depois que eu meio que perdi a voz... Sempre gostou de me colocar nos karaokês da vida e escolhia a música, "Tê, canta essa", e lá ia eu, sem saber a letra...

"Procura Cirandeiro aí, pode ser com a Maria Bethânia mesmo, seu pai gostava dessa música".
"Acha A Banda do Chico", e aí me contava do festival que ela e meu pai foram, e A Banda ganhou, junto com Disparada, "aliás acha disparada aí, vai", e assim ela ia me contando, um pouco de cada vez...

Sua vida foi rica em fatos, que eu me arrependo de nunca ter tentado transcrever... Os anos em que morou na Alemanha, sua juventude, as histórias mirabolantes de sua fuga do Brasil... Tudo isso se perdeu com sua morte...

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