Outro dia me peguei pensando que a minha filha não vai ter a mesma infância que eu tive - e isso me deixou bem triste.
Porque a minha infância e adolescência foram lindas.
Eu tive tudo na ordem certa: amizades de rua que viviam as aventuras comigo; as amizades de escola que eram totalmente especiais; uma família maravilhosa que estava sempre ali; animais de estimação perfeitos e o melhor lugar do mundo pra passar as férias.
Não sei se a Carol terá tudo isso. Começando pela quantidade de primos que eu tenho, e ela está reduzida à família do Fabio.
Ela terá acesso a tecnologias que eu nunca tive, e que podem prende-la dentro de casa, de uma forma que eu nunca fiquei: a única coisa que me prendia em casa era TV e um livro.
O mundo dela já é bem mais violento de uma maneira que o meu nunca foi. Aliás eu não consigo sequer imagina-la andando pelos bairros de Birigui como eu andei pelos bairros de SP. Como eu andava de ônibus pra cima e pra baixo e como eu vagava pela minha cidade, enorme, sem medo.
Ela não terá amigos para brincar de Taco, na rua; de estátua; de esconde esconde; pega pega; balança caixão; carrinho de rolemã; pai da rua; pipa; bolinha de gude; pião. Talvez ela consiga andar de bicicleta na rua sob supervisão.
E talvez a turma dela nunca faça como a minha fez: uma última brincadeira, um jogo de pai da rua, ou esconde, ou pega, nem lembro, à noite, todos já com mais de 17 anos, se matando de correr e brincar... Foi a última vez que nos reunimos pra viver uma época boa de criança que nó sabíamos que nunca ia voltar...
A Carol não terá um tio benevolente com uma fazenda incrível, com peões, gado, plantação, pra passar as férias como eu tive. Não terá piscina com rampa pra escorregar, nem gado nelore pra tocar na estrada. Não terá primos em bagunça numa casa de fazenda enorme, com milho cozido a tarde e bolo de chocolate feito pela minha tia, que junto com a minha vó eram as melhores cozinheiras "do mundo".
Carol não terá como pular carnaval em Clementina com os melhores amigos do mundo, ou ir nas quermesses de Braúna com esses mesmos amigos.
Ela terá amigos cada dia mais dependentes de celulares, smartphones e outros aparelhos do gênero. Sim, ela terá acesso aos animais, tão preciosos pra nossa saúde mental, mas não será a mesma coisa, creio eu.
Se eu tivesse que congelar minha vida em algum ponto; se eu pudesse voltar no tempo e estacionar, eu estacionaria de 1985 à 1987, talvez. Eu estacionaria na sexta série e talvez, na sétima.
Foram os melhores ANOS da minha vida.
Não sei se tive ANOS felizes depois disso, eu consigo lembrar de MOMENTOS felizes, mas anos? Sem duvida foram os anos de 1985 à 1987.
Todas as pessoas que eu amava estavam vivas e, em determinado momento, juntas, na minha vida. Eu tinha acesso aos 2 lados da minha família, materno e paterno; tinha acesso à fazenda e aos muitos amigos que fiz no Baguaçu; tinha meus amigos de rua; meus amigos de escola; meus bichos de estimação, todos eles também vivos;
Definitivamente, nessa época eu era FELIZ como poucos conseguiram ser, ou como eu jamais seria de novo, pois como eu disse, existem na nossa vida momentos de felicidade... Mas nesses breves anos eu realmente FUI feliz.
sábado, 4 de janeiro de 2014
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