sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Aqui, de novo na Santa Casa, curando um começo de pneumonia da Meyre, é quando eu vejo o que a miséria humana tem de pior. Mas também, o que o ser humano pode ter de melhor. 

Tem muita gente aqui, de todos os tipos. Gorda, magra, rica, pobre, preta, branca, católicos, evangélicos, espíritas, porém existe algo que une a todos: algum tipo de moléstia. 

As pessoas ficam mais solidárias no hospital. Se ajudam, torcem umas pelas outras. Em alguns casos, até criam vínculos de amizade e/ou preocupação. 

Tem muitos idosos acamados aqui. Alguns piores, outros um pouco melhor. Tem uma senhora no leito ao lado do nosso cujo(s) filho(s) passa(m) o dia com ela. Na verdade só prestei atenção hoje, então não sei se é apenas um rapaz, se tem mais pessoas. Sei que a noite ela fica sozinha. Hoje tinha que fazer curativo e eu ajudei a trocar a fralda dela. Como estou acostumada com a Meyre toda durinha, estranhei ajudar a trocar uma pessoa mais mole... Escaras dos 2 lados, no quadril, e na região sacral. Até aí, normal, se não tomar cuidado dá isso mesmo.
Essa senhora está num estado parecido com o da minha mãe. Mas por outros motivos, alzheimer e parkinson. Não se move, não fala. Não fixa o olhar... Então até dá pra deixar sozinha, a gente sabe que não vai se levantar ou dar trabalho. As enfermeiras fazem os procedimentos, ninguém vai passar fome aqui. 

Mas aí eu soube que ela está num dos asilos de Birigui (qual deles não vem ao caso) e só de hospedagem os filhos pagam R$1000,00, mais alimentação, medicamentos, etc. 
E pensei que eu, sozinha em casa, não sendo profissional, curei todas as escaras da minha mãe, só falta uma pequena na região sacral, justo a que era a maior; Eu tentei de tudo, inclusive pomada veterinária; Eu que fiquei psicótica com vincos no lençol; que dou a sopa de legumes grossa com uma seringa; que passei a dormir num quarto separado pra poder levantar de madrugada caso tenha que limpar a traqueostomia; que quando tenho que sair faço tudo pensando nela que ficou em casa; que nem penso em viajar porque não suporto a ideia de deixar minha mãe aos cuidados de outra pessoa... eu não julgo, não condeno, sei que não é fácil. Tem gente que não tem a mesma disponibilidade de tempo que eu tenho...
Mas não dá pra pensar em deixar minha mãe com gente estranha tomando conta dela. 
Não. Não dá. 

Nada disso é sacrifício pra mim. É obrigação, é prazer. Ninguém vai cuidar dela como eu cuido. 
Se eu não puder fazer isso por ela depois de tantos anos de amor e convivência, quem fará? 
Eu agradeço não ter irmãos pra dividir nada... Eu cuido dela, se tiver que fazer cagada, eu faço. Se tiver que assumir a responsabilidade de um tratamento ou de uma burrada, eu faço. Sem ninguém pra me acusar, apontar o dedo. 

Sou eu e ela; eu e ela.

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